Capítulo 1
Dezembro, 1990
Natal na casa dos Malfoy era sempre recheado dos presentes mais caros que Narcissa conseguia comprar, o chá mais requintado que Lúcio encontrava no beco diagonal e, para completar, a decoração que Draco começava a inventar um mês antes das Festas. Porém, naquele ano, tudo para Draco se resumia a Hogwarts.
O fim do ano também significava para Draco que o seu ano de ir para escola de magia finalmente chegava. Em junho, ele completaria 11 anos, assim, em 1 de setembro ele finalmente iria conhecer a plataforma 9 3/4. Por isso, não foi surpresa para ninguém quando o garoto planejou toda a decoração de Natal da Mansão Malfoy com as cores verde e prata, as mesmas da Sonserina, casa que os pais de Draco pertenciam quando frequentaram a escola e para onde ele ansiava ir.
Porém, para a tristeza do garoto, Lucio resolveu viajar justamente nas vésperas de Natal. Ele precisou ir para a Escócia fechar um negócio que deixaria a família já abastada, mais rica ainda. Apesar de passar o Natal longe do pai, Draco estava feliz com esse negócio pois, para ele, isso significaria presentes mais caros e, quem sabe, uma vassoura de última geração para levar no seu primeiro ano na escola.
Draco sabia que era muito difícil ele entrar para o time de quadribol ainda no primeiro ano, porém ele continuava sonhando que seria o primeiro e único aluno a conseguir essa façanha. Todas as noites ele sonhava com o castelo e se imaginava sobrevoando com uma vassoura de última geração. Talvez, quem sabe, ainda conquistar se a taça de quadribol para sua futura casa. Vestir o uniforme verde e prata com orgulho, estampado com o emblema de Salazar Slytherin tão poderoso quanto seu anel da família Malfoy. Todos os dias Draco conferia se a famosa carta havia chegado, mesmo que ele soubesse que não começavam a distribuir cartas antes do aluno completar onze anos.
Narcissa, por outro lado, estava feliz com a ausência do marido. Draco ainda era muito novo para compreender o tipo de relação que os pais tinham. Isso porque Narcissa foi escolhida a dedo para ser a esposa de Lúcio Malfoy, com a responsabilidade de dar herdeiros a rica família puro sangue. Porém isso também significou que ela precisou deixar de lado as suas próprias ideias e os seus sonhos. Até mesmo a sua irmã, Andrômeda, única que teve coragem de rebelar-se contra família Black.
Narcissa não admitia, mas ela tinha inveja de Andrômeda. Não pelo marido trouxa, muito menos pela casinha no subúrbio onde eles moravam. Entretanto, Andrômeda teve escolha e pôde construir uma família verdadeiramente recheada de amor. Narcissa tinha Draco, mas ela tinha medo de quem ele poderia se tornar se seu pai continuasse impondo ideologias, comportamentos e até mesmos sonhos para o garoto.
Narcissa sabia que o filho era apenas uma criança. Mas, aos dez anos, Draco era obrigado a se comportar como um adulto. Ele não podia comer chocolate de sobremesa, precisava estar sempre bem vestido, de preferência com um terno ou vestes, e era levado pelo pai, sempre que possível, às reuniões de negócios. Lucio queria que o filho aprendesse desde cedo a dar valor e a administrar a fortuna que um dia seria dele.
Lucio aparatou para Londres onde pegaria um trem até a Escócia no dia 24 de dezembro pela manhã. Narcissa não perdeu tempo. Mandou logo que seu elfo doméstico, Doby, ir fazer uma compra em Londres e só retornar no dia seguinte. O elfo era leal, mas às vezes leal até demais.
— Draco, se arrume para a Festa. Nós dois iremos passar Natal na casa de sua tia.
Draco estava no seu quarto com um livro aberto no colo. Ele olhou para a mãe assustado.
— Eu não quero ir para Askaban, mamãe.
Narcissa sorriu e andou até a cama do garoto, sentando-se ao seu lado.
— A mãe tem duas irmãs, filho. Uma delas é a tia Belatrix, braço direito do Lord das Trevas que foi para Askaban após nosso líder ser derrotado. Temos muito orgulho da Tia Bela. Porém eu também tenho outra irmã. E eu e você teremos uma aventura nesse Natal para que você possa conhecer a Tia Andrômeda e sua filha Ninfadora.
— Ninfadora é um nome engraçado.
— Sim, é sim. — Narcissa segurou a mãozinha do filho. Draco parecia crescer a olhos nu e ela sabia que em breve essa inocência em que ela o havia criado, cercado de proteções e conforto dentro da mansão Malfoy, iria acabar. — É porque o pai da Ninfadora é um sangue ruim. Por isso que nunca fomos a casa da sua tia. E é por isso que seu pai nunca poderá saber da nossa aventura. Promete que ficará entre nós dois?
Narcissa levantou o dedo mindinho que, com um sorriso no rosto, Draco o aceitou.
— Prometo. — O garoto achou estranho a mãe querer passar a melhor noite do ano com sangues ruins e traidores de sangue, porém ele jamais questionaria Narcissa Malfoy.
Draco rapidamente se levantou e começou a organizar de forma metódica um conjunto de vestes escuras e sapatos de couro com adornos que deixava o garoto se sentindo mais velho. O ano novo nem tinha começado e as aventuras que lhe prometeram estavam começando.
…
— Aqui, pegue o pó de Flu e diga Residência dos Tonks. — Narcissa tinha os cabelos preto e dourados presos em um coque alto e elegante. Suas vestes eram de um verde escuro que combinada com o capuz da veste que Draco vestia por cima do terno.
O garoto ainda estava aflito sobre essa aventura. Natal sempre foi ele e seus pais. Uma festa pequena, onde a mãe lhe servia seus biscoitos favoritos enquanto ele abria os presentes. Em seguida, os elfos serviam o jantar e, às nove da noite, Draco já estava na cama, sonhando com o dia que começaria as aulas.
— Tem certeza que é seguro, mamãe?
— Claro, filho! Já mandei uma coruja para sua tia e ela está nos esperando com uma árvore de Natal colorida e uma ceia de Natal trouxa que eu tenho certeza que você vai gostar.
Draco franziu a testa. Ele já tinha escutado seu pai falar diversas vezes que trouxas não mereciam dominar aquele mundo e que o mundo bruxo era obrigado a se esconder porque eles eram burros demais para entender o que não conseguiam explicar com suas leis e ciência. Porém, ele era muito novo para entender o que aquilo significava.
Os olhos azuis do garoto brilhavam enquanto ele pegou o pó esverdeado e, com toda a força em seus pulmões, gritou “Residência dos Tonks” enquanto sua mãe aparatava para um mundo desconhecido para o pequeno Malfoy. Draco não era muito fã de viajar de Flu. Sempre o deixava enjoado e demorava e passar a tontura. Porém, não havia muitas formas de transporte para um bruxo menor de idade. Ele não via a hora de crescer e poder aparatar.
Assim que abriu os olhos, Draco viu apenas a poeira deixada pelo pó mágico. Precisou tossir algumas vezes antes de ver Narcissa, parada ao lado da lareira, lhe esticando a mão para que ele adentrasse o cômodo totalmente diferente dos da mansão Malfoy.
— Oi! — Uma garota com cabelos rosa e um nariz de porco pulou na sua frente.
Draco se assustou e se aproximou da sua mãe.
— Dê algum espaço para ele, Ninfadora! — Uma mulher de cabelos loiros e olhos verdes iguais aos da sua mãe chamou a garota.
— Não me chama de Ninfadora mãe! — Draco viu os cabelos da garota tomarem uma cor roxa escura e seu nariz arrebitado naturalmente voltar ao normal. Ele respirou aliviado em saber que aquela garota não tinha de fato um nariz animalesco. Ele não fazia ideia de como os trouxas eram.
— Draco, essa é sua prima Tonks e sua tia Andrômeda. Ninfadora é uma metamorfa, característica que ela herdou da nossa família. — Narcissa colocou a mão nas costas do filho, um sorriso relaxado nos seus lábios como Draco nunca tinha visto. Ela olhou para irmã com um pedido de desculpas silencioso enquanto o garoto apenas observava o lugar.
As paredes de tijolo, o céu mais claro do que ele estava acostumado, um sofá vermelho com almofadas e um tapete peludo compunham o ambiente em que eles se encontravam. Mais ao fundo tinha uma árvore de Natal enorme e toda colorida. Ele arregalou os olhos e sua reação não passou despercebida pela tia.
— Você quer ver a árvore? Venha! — Andrômeda esticou a mão para o garoto que, mesmo desconfiado, aceitou. — No mundo trouxa, o Natal é comemorado o nascimento de Jesus. É também uma data para se estar com a família, trocar presentes e lembrar que a maior magia do mundo ainda é o amor.
— Amor não é magia. Não tem como fazer amor com uma varinha. — O garoto franziu o cenho, achando toda aquela baboseira estranha.
Tonks segurou uma risadinha e recebeu um olhar bravo da mãe. Narcissa se sentou no chão e puxou Draco para perto de si.
— Amor não é o tipo de magia que você produz, Draco. Nós temos poções do amor, mas elas jamais podem causar amor de verdade.
Draco deu de ombros, ainda sem acreditar nessa conversa. Ele segurou a mão da sua mãe enquanto admirava o enorme pinheiro na sala.
— Nós também temos uma árvore de Natal, mas não é tão colorida. Eu gostei dessas luzinhas que piscam. — Draco esticou a mão para tocar uma das luzinhas verdes e sentiu o calor do pequeno objeto da sua palma — É quente!
— Sim, bobinho. Está ligado na tomada, olha. — Tonks apontou para um fio na parede que fez o garoto franzir o cenho. Ele começou a ficar inquieto, sentindo falta das velas flutuantes e brilho natural que a árvore da sua casa tinha. — Você gosta de quadribol?
Tonks perguntou para o garoto que ficou feliz em finalmente escutar algo que ele conhecia. Imediatamente ele se levantou, deixando de lado todas as dúvidas e receios que ele tinha sobre aquele mundo desconhecido.
— Quem não gosta?!
— Venha! Eu comprei uma vassoura nova e você pode usar a velha. A minha mãe escolheu nossa casa a dedo para que não ficasse tão longe do trabalho trouxa do pai, mas também pudéssemos fazer magia sem trouxas por perto. — O cabelo de Tonks mudou para um azul claro e os olhos de Draco brilharam.
— Eu nunca conheci uma metamorfa! O que mais você pode fazer?
Narcissa escutou a sobrinha contando sobre seus poderes para o filho. Ninfadora Tonks estava com quase 18 anos e em seu último ano em Hogwarts. Draco estava animado para perguntar a prima tudo sobre a escola, quais disciplinas ele iria cursar e o que ela queria fazer quando concluísse a escola.
Era a primeira vez que Draco tinha contato com outros bruxos que não o círculo íntimo do seu pai. Andrômeda se sentou no chão ao lado da irmã quando os mais novos já estavam no quintal discutindo sobre vassouras e quadribol.
— Qual o motivo da surpresa, Narcissa? — A voz de Andrômeda era um tom mais baixo do que usara com Draco. Tinha anos desde que Narcissa tinha estado sozinha com a irmã e, ainda assim, Drômeda era tudo, menos uma estranha.
— Eu queria que Draco conhecesse você e a Tonks. Quando Lucio falou que não iria passar o Natal com a gente, não pensei duas vezes em te mandar uma coruja.
— Como vocês estão?
— Levando um dia depois do outro. Eu me preocupo com Draco e toda a influência que o pai tem nele, mas...
— Mas Malfoy tem influência em você também. Eu sempre te avisei sobre ele.
— Está tarde para um "eu disse", Drômeda. — Narcissa desviou o olhar da irmã para o tipo da árvore de Natal, adornada com uma estrela coberta de glitter.
— Eu jamais falaria isso com você.
As irmãs Black ficaram em silêncio por alguns minutos. Do quintal, se ouvia o barulho das vassouras voando e os gritos de Tonks ensinando para Draco como voar sem se espatifar no chão. Narcissa sabia que o filho chegaria na primeira aula de voo em Hogwarts se achando porque ele já sabia voar.
— Vem, me ajuda com o jantar. — Andrômeda se levantou e esticou a mão para a irmã. A partir daquele momento o nome de Lucio Malfoy estava proibido naquela casa.
...
Tonks fazia imitações na sala de estar enquanto Draco ria das idiotices da prima. Narcissa estava feliz por ver como eles haviam ficado amigos tão rapidamente. Draco era a criança mais desconfiada que ela conhecia. Raramente ele se permitia ser ele mesmo e tinha a necessidade de se comportar como o pai em todas as situações possíveis. Era bom ver o filho ser ele mesmo pelo menos por uma noite.
Ted Tonks chegou pouco antes das seis horas e desde então tinha assumido a cozinha, fazendo uma sobremesa enquanto Narcissa e Andrômeda colocavam a conversa em dia. Nenhuma das duas falou sobre Bellatrix e Narcissa sentiu os papeis invertidos: Por algumas horas a irmã renegada era a Lestrange, esquecida em Askaban, enquanto a Tonks estava ali, viva, bonita e feliz.
— O que a Tonks pensa em fazer quando se formar? — Narcissa perguntou após tomar um gole do vinho tinto trouxa que ela odiaria ter que admitir que achara mais gostoso do que whisky de dragão.
— Não sei se ela já se decidiu, mas com as notas que fez nos N.O.M.s, tudo depende do seu N.I. E.M.s. Ela é apaixonada por Defesa contra as Artes das Trevas e sempre fala em se tornar auror, mas ela ainda tem um semestre. Talvez mude de ideia. — Andrômeda sorriu ao olhar para filha, tão diferente do que ela imaginara um dia, porém tão única e corajosa. — Na verdade eu espero que ela mude de ideia.
Andrômeda mais uma vez desviou o olhar, dessa vez para a mesa de centro com fotos de amigos e parentes mortos na Primeira Guerra. Narcissa acompanhou o olhar da irmã e ficou em silêncio. As duas irmãs eram a prova viva que não existe vencedor em uma guerra. Ambos os lados tem perdas profundas, marcas transmitidas para as próximas gerações e lacunas em noites como aquela. Natal era tempo de família, mas como se comemora família se não há uma família com quem dividir?
— Eu falei que ela deveria ir para uma faculdade trouxa cursar artes cênicas, mas essas duas nunca me levam a sério. — Ted serviu mais uma taça de vinho tinto para as irmãs Black.
— Artes cênicas? — Narcissa franziu o cenho, achando estranho o nome da profissão. — O que é isso? Algum tipo de Magia com potes?
— Nada de magia, irmã. — Os Tonks riram do comentário da Malfoy.
— Artes cênicas é um curso para pessoas que querem ser ator ou atrizes. Nele se ensina como agir em um palco, figurino, e muitas outras coisas. Com a habilidade natural metamorfa de Tonks, tenho certeza que ela conquistaria um Oscar — Ted tentou explicar, se enrolando mais ainda com as palavras desconhecidas para a bruxa puro sangue. Narcissa achou estranho o conceito de "filme" e ficou ainda mais assustada quando Andrômeda mostrou a ela uma fita VHS.
Tonks e Draco escolheram essa hora para entrarem na cozinha em busca de água, ambos cansados pelo esforço físico. Narcissa arrumou a franja loira de Draco e segurou um riso: Era a primeira vez que via o filho com o cabelo desarrumado. Ted então mostrou a fita VHS para Draco e convidou os Malfoy a participarem de uma das tradições de Natal da família Tonks: assistir filmes temáticos até a hora da ceia.
— Temos diversos tipos de filmes nessas fitas. Colocamos no aparelho e eles passam na Televisão. — Drômeda explicou com calma para Narcissa e Draco, que estava com os cabelos molhados de suor, enquanto Ted ligava a TV.
Draco arregalou os olhos quando viu a tela acessa e perguntou se as pessoas estavam presas ali. Tonks riu, mas explicou que era como os trouxas ficavam sabendo das notícias, ou pelo menos o mais próximo e lógico que ela conseguia explicar para um bruxo que foi criado completamente isolado do mundo trouxa.
— Eu tenho certeza que em breve o mundo bruxo vai começar a usar algumas dessas tecnologias da mesma forma que usamos trens e outros meios de transporte. — Tonks mostrou o relógio de pulso para Draco que achou útil o objeto. Saber as horas sempre que desejava deveria ser algo bom.
— Eu não entendo porque o mundo bruxo continua sendo tão isolado. Com suas regras e recusas a evolução. Agradeço a Ted todo dia por ter me apresentado coisas que a magia não pode fazer. — Andrômeda segurou na mão do marido que acabara de sentar ao seu lado.
Narcissa observou o comportamento da irmã e foi impossível não sentir inveja. Lucio nunca a tratara com carinho assim ou permitia que ela agisse com ele dessa forma. Era uma ternura que ela desconhecia. Uma vida que jamais seria a dela. Olhou para Draco se perguntando se o filho um dia teria o direito de viver um amor tão leve e puro assim.
Talvez, agora que o Lord Voldemort tinha sido derrotado, as coisas poderiam ser melhores para os Malfoy. A vida poderia ser mais fácil para Draco.
— Tia, você ficou sabendo que Harry Potter vai ser colega de Draco em Hogwarts? Não se fala de mais nada na escola e esse está sendo meu único arrependimento por formar em junho. — Tonks tirou Narcissa do seu devaneio e a bruxa sentiu um aperto no estômago. Ela não ouvia o nome Potter há dez anos e esperava que continuasse assim.
— Quem é Harry Potter? — Draco perguntou, já se imaginando fazendo amizade com o garoto na escola. Ele não via a hora de fazer amizade com todos os garotos da sua turma, salvo talvez os grifinórios.
Andrômeda olhou de Narcissa para Tonks, ela sabia o quanto esse assunto seria delicado entre elas. Escolhas que haviam sido feitas pela irmã. E ela conhecia Lucio Malfoy muito bem para saber como Draco estava sendo criado. Porém, Tonks não viu o alerta da mãe, ainda empolgada em compartilhar a notícia com o primo.
— Harry Potter é o bruxo que derrotou você-sabe-quem. Ninguém sabe como isso aconteceu porque ele ainda era um bebê na época. Mas desde aquela noite, ninguém nunca mais viu você-sabe-quem.
— Então ele é um bruxo poderoso! — Draco arregalou os olhos azuis, definitivamente fazendo planos em ter Harry Potter ao seu lado. — Onde Harry mora? Quem são seus pais?
O clima leve na sala foi embora assim que Draco, inocentemente, fez perguntas demais. Narcissa não falava sobre a derrota do Lord das Trevas, mas Lucio já havia contado a sua versão dos fatos para o filho. Nessa versão, o culpado de tudo era Sirius Black. Primo de Narcissa que havia traído duas vezes: primeiro a sua família e depois o seu melhor amigo.
Mas Narcissa sabia da verdade. Ela sabia que não era Sirius o dono do segredo dos Potter. E também sabia como ela e Lucio tinham escapado de Askaban por causa de Draco. Ela implorara para o marido ficar na mansão naquele dia, afinal, era Halloween e o filho tinha apenas um ano. Eles deveriam celebrar. Mal ela sabia que ali tinha traçado todo o seu destino e o de Draco.
— Ninguém sabe onde Harry mora, filho. Seus pais morreram na guerra e ele foi escondido por Dumbledore. Acho que todos nós estaremos aguardando sua coruja no ano que vem nos contando como é o Harry, especialmente se ele também for aceito na Sonserina como sei que você vai ser.
O cabelo de Tonks mudou de um rosa para cinza ao sentir a raiva pelo comentário tão purista. Porém ela soube ficar em silêncio. Sonserina era a casa da sua mãe e ela respeitava por isso, porém, ela era grata todos os dias por ter herdado os valores lufanos do seu pai. Ver como uma família purista como os Malfoy agiam era angustiante e frustrante. Ela rezou para que Draco caísse em outra casa, porém ela sabia que o chapéu seletor levava muito em consideração o desejo do bruxo. E o primo já usava o emblema da casa de Salazar Slytherin muito antes de sequer completar os onze anos.
— Vamos assistir ao filme? — Ted desviou o assunto afinal, ainda era Natal. Uma data para estar em família, mesmo que ela fosse completamente desajustada, quebrada e dividida por anos de ideais contraditórios. — Draco, esse filme se passa em Nova York. Você já conheceu Nova York?
— A da Inglaterra ou dos Estados Unidos, tio?
— A americana, filho. Coloque a cidade na sua lista de lugares para conhecer algum dia, vale a pena.
Draco assentiu e olhou para televisão, se envolvendo no enredo que passava na tela, recheada de músicas natalinas, árvores de natal e trilha sonora, se encantando por um mundo completamente diferente do que ele conhecia. Narcissa não fazia ideia do que se tratava o filme. Ela passou os próximos noventa minutos olhando do filho para Tonks, desejando que ele pudesse ser mais como a prima, mas sabendo que era tarde. Draco Malfoy tinha sido criado para agir como a cópia do pai com estranhos. Hogwarts não seria nada fácil para ele, especialmente se Harry Potter de fato fosse seu colega de turma.
...
Draco já estava sonolento depois do jantar e Narcissa sabia que eles precisavam ir embora. Porém, assim que ela falou com a irmã, Andrômeda disse que eles ainda tinham os presentes para abrir.
— Presentes? — Draco perguntou ao escutar a conversa. Como toda criança, uma das coisas que ele mais gostava do Natal era presentes, porém pensou que aquela celebração trouxa não teria presentes. Pelo menos não da forma como era em sua casa. Por um segundo, ele pensou se receber presentes ali significava que não teria novos brinquedos na manhã seguinte, mas recordou-se da promessa do pai de voltar da Escócia com diversas surpresas para o filho.
— Sim! E compramos coisas para vocês também. — Andrômeda respondeu indo até a árvore de Natal.
— Mas mãe, pensei que a gente ia esperar até amanhã, como todo ano.
— Esse ano é especial, Ninfadora. É a primeira vez que Draco passa a noite de Natal com a nossa família e ele merece uma experiência completa. — Andrômeda foi até o garoto sentado no sofá com três pacotes não muito grandes. — Feliz Natal, Draco.
— Obrigado, tia. — Ele olhou para mãe, sem saber se poderia receber, mas ansioso em rasgar a embalagem temática verde e vermelha. Narcissa sorriu para o filho que não perdeu tempo em abrir primeiro o pacote menor. — Um relógio igual ao da Tonks!
— Esse foi eu quem escolhi. Para você não perder a hora em Hogwarts. — Ninfadora falou animada.
— Obrigado! — Ele não demorou para abrir os outros dois pacotes: uma camisa da seleção da Inglaterra de futebol que o tio Ted tinha escolhido e um suéter com o emblema de Hogwarts. Draco não perdeu tempo em vestir o suéter e colocar o relógio no pulso. Ele estava apaixonado pelo relógio: a pulseira marrom, o visor branco com os ponteiros prateados. Tonks havia ensinado ele a olhar as horas e ele não via a hora de mostrar para o pai o presente. Mas, o garoto percebeu o olhar de Ted para a camisa deixada em seu colo. — Tio, eu gostei da camisa também, mas não entendo nada de esporte trouxa. Você pode me ensinar outro dia?
— Claro, Draco! Na próxima Copa do Mundo poderemos ir assistir.
— Tem Copa do Mundo de trouxa também?
— Eu tenho certeza que essa é uma linguagem oficial do esporte, mas te garanto que não chega nem aos pés da Copa do Mundo de Quadribol. — Ted piscou para o garoto que abriu um sorriso empolgado pelo convite.
Ted e Tonks começaram a conversar sobre futebol com Draco e Andrômeda aproveitou a distração para levar Narcissa até a cozinha e entregar-lhe o seu presente.
— Drômeda, você não deveria ter feito isso! Não trouxe nada para vocês...
— Você é minha convidada, Narcissa. E, acima de tudo, minha irmã.
A caixinha nas mãos de Andrômeda era bem menor do que as que ela havia entregado para Draco. Narcissa aceitou o presente com as mãos trêmulas, abrindo a embalagem dourada com receio do que Andrômeda Tonks poderia ter preparado. Porém, quando enfim viu as duas pequenas joias idênticas ela se assustou. Os brincos com pedras esmeraldas eram exatamente iguais aos que Narcissa costumava usar quando eram adolescentes. Ela os havia perdido durante a Primeira Guerra e nunca achou que os veria de novo.
— Eles estão enfeitiçados. Sempre que você precisar de mim, é só dar dois toques na pedra esquerda que daremos um jeito de entrar em contato. E não, não são rastreáveis.
Narcissa não soube o que falar, apenas trocou os brincos antigos pelos novos, com cuidado para não tocar nas pedras esverdeadas. Ela sorriu, talvez pela primeira vez na noite, ela deu um sorriso verdadeiro.
— Ficaram lindos!
— Obrigada Andrômeda. Por tudo. Pelos presentes, pelo jantar, pela noite. Draco precisava saber o que é uma família de verdade. E que ele tem uma, sempre que ele precisar.
— Ele sabe porque ele tem você. O quanto você ama esse menino é nítido, Narcissa. Você não estaria presa a Lucio até hoje se não fosse por causa do Draco. E eu tenho certeza que ele pode ser criança ainda, mas ele sabe. — Andrômeda segurou as mãos da irmã.
— Eu vou sentir tanta falta dele quando ele for para Hogwarts. Aquela mansão vai ficar silenciosa demais.
— Você sempre pode me chamar que te prometo que sua vida jamais será chata comigo.
Andrômeda abraçou Narcissa e a Malfoy sentiu lágrimas se formando em seus olhos. Draco pouco depois entrou na cozinha pedindo para mãe para irem embora e, juntos, entraram na lareira após se despedir dos Tonks. Narcissa deu uma boa olhada na pequena família coberta pela névoa de amor e magia que apenas no Natal era possível ver. A família como ela queria ter. Abraçou Draco e, juntos, voltaram para a Mansão dos Malfoy, mais fria do que ela se recordava que era.
...
Draco já estava de pijama, admirando mais uma vez o relógio que não queria guardar, quando Narcissa entrou em seu quarto com uma caneca de chocolate quente e a varinha em mãos.
— Gostou do seu Natal, filho?
— Eu amei, mãe! A Tonks é maravilhosa. Você sabia que ela quer ser auror? Eu posso ser auror também, né? — Draco puxou a coberta por cima das pernas aceitando o chocolate quente que a mãe lhe levava toda noite.
— Você pode ser o que você quiser, filho. — Narcissa deu um beijo no cabelo do garoto. — Agora tome seu leite e vamos dormir. Seu pai deve chegar amanhã bem cedo. E tenho certeza que ele vai trazer ainda mais presentes da Escócia.
Draco assentiu e colocou a caneca vazia na mesa de cabeceira, se virando para o lado ao deitar. Narcissa começou a cantarolar enquanto acariciava os cabelos platinados do filho. Fisicamente, Draco era a cópia de Lucio. Mas naquela noite, ele tinha provado que poderia ser muito mais do que um discípulo dos Malfoy.
Porém, apesar de Draco ter lhe prometido segredo, Narcissa não poderia correr o risco que Lucio descobrisse onde ela esteve. Ela guardou a camisa de futebol e o suéter de Draco em uma caixinha no fundo do armário do garoto, jogando um feitiço para que ele só pudesse abrir quando completasse dezessete anos. Até lá, ela esperava que a vida dos dois fosse outra.
Com lágrimas nos olhos e ainda sentindo o abraço que Andrômeda havia lhe dado, Narcissa segurou sua varinha e sussurrou.
— Obliviate!
Natal na casa dos Malfoy era sempre recheado dos presentes mais caros que Narcissa conseguia comprar, o chá mais requintado que Lúcio encontrava no beco diagonal e, para completar, a decoração que Draco começava a inventar um mês antes das Festas. Porém, naquele ano, tudo para Draco se resumia a Hogwarts.
O fim do ano também significava para Draco que o seu ano de ir para escola de magia finalmente chegava. Em junho, ele completaria 11 anos, assim, em 1 de setembro ele finalmente iria conhecer a plataforma 9 3/4. Por isso, não foi surpresa para ninguém quando o garoto planejou toda a decoração de Natal da Mansão Malfoy com as cores verde e prata, as mesmas da Sonserina, casa que os pais de Draco pertenciam quando frequentaram a escola e para onde ele ansiava ir.
Porém, para a tristeza do garoto, Lucio resolveu viajar justamente nas vésperas de Natal. Ele precisou ir para a Escócia fechar um negócio que deixaria a família já abastada, mais rica ainda. Apesar de passar o Natal longe do pai, Draco estava feliz com esse negócio pois, para ele, isso significaria presentes mais caros e, quem sabe, uma vassoura de última geração para levar no seu primeiro ano na escola.
Draco sabia que era muito difícil ele entrar para o time de quadribol ainda no primeiro ano, porém ele continuava sonhando que seria o primeiro e único aluno a conseguir essa façanha. Todas as noites ele sonhava com o castelo e se imaginava sobrevoando com uma vassoura de última geração. Talvez, quem sabe, ainda conquistar se a taça de quadribol para sua futura casa. Vestir o uniforme verde e prata com orgulho, estampado com o emblema de Salazar Slytherin tão poderoso quanto seu anel da família Malfoy. Todos os dias Draco conferia se a famosa carta havia chegado, mesmo que ele soubesse que não começavam a distribuir cartas antes do aluno completar onze anos.
Narcissa, por outro lado, estava feliz com a ausência do marido. Draco ainda era muito novo para compreender o tipo de relação que os pais tinham. Isso porque Narcissa foi escolhida a dedo para ser a esposa de Lúcio Malfoy, com a responsabilidade de dar herdeiros a rica família puro sangue. Porém isso também significou que ela precisou deixar de lado as suas próprias ideias e os seus sonhos. Até mesmo a sua irmã, Andrômeda, única que teve coragem de rebelar-se contra família Black.
Narcissa não admitia, mas ela tinha inveja de Andrômeda. Não pelo marido trouxa, muito menos pela casinha no subúrbio onde eles moravam. Entretanto, Andrômeda teve escolha e pôde construir uma família verdadeiramente recheada de amor. Narcissa tinha Draco, mas ela tinha medo de quem ele poderia se tornar se seu pai continuasse impondo ideologias, comportamentos e até mesmos sonhos para o garoto.
Narcissa sabia que o filho era apenas uma criança. Mas, aos dez anos, Draco era obrigado a se comportar como um adulto. Ele não podia comer chocolate de sobremesa, precisava estar sempre bem vestido, de preferência com um terno ou vestes, e era levado pelo pai, sempre que possível, às reuniões de negócios. Lucio queria que o filho aprendesse desde cedo a dar valor e a administrar a fortuna que um dia seria dele.
Lucio aparatou para Londres onde pegaria um trem até a Escócia no dia 24 de dezembro pela manhã. Narcissa não perdeu tempo. Mandou logo que seu elfo doméstico, Doby, ir fazer uma compra em Londres e só retornar no dia seguinte. O elfo era leal, mas às vezes leal até demais.
— Draco, se arrume para a Festa. Nós dois iremos passar Natal na casa de sua tia.
Draco estava no seu quarto com um livro aberto no colo. Ele olhou para a mãe assustado.
— Eu não quero ir para Askaban, mamãe.
Narcissa sorriu e andou até a cama do garoto, sentando-se ao seu lado.
— A mãe tem duas irmãs, filho. Uma delas é a tia Belatrix, braço direito do Lord das Trevas que foi para Askaban após nosso líder ser derrotado. Temos muito orgulho da Tia Bela. Porém eu também tenho outra irmã. E eu e você teremos uma aventura nesse Natal para que você possa conhecer a Tia Andrômeda e sua filha Ninfadora.
— Ninfadora é um nome engraçado.
— Sim, é sim. — Narcissa segurou a mãozinha do filho. Draco parecia crescer a olhos nu e ela sabia que em breve essa inocência em que ela o havia criado, cercado de proteções e conforto dentro da mansão Malfoy, iria acabar. — É porque o pai da Ninfadora é um sangue ruim. Por isso que nunca fomos a casa da sua tia. E é por isso que seu pai nunca poderá saber da nossa aventura. Promete que ficará entre nós dois?
Narcissa levantou o dedo mindinho que, com um sorriso no rosto, Draco o aceitou.
— Prometo. — O garoto achou estranho a mãe querer passar a melhor noite do ano com sangues ruins e traidores de sangue, porém ele jamais questionaria Narcissa Malfoy.
Draco rapidamente se levantou e começou a organizar de forma metódica um conjunto de vestes escuras e sapatos de couro com adornos que deixava o garoto se sentindo mais velho. O ano novo nem tinha começado e as aventuras que lhe prometeram estavam começando.
— Aqui, pegue o pó de Flu e diga Residência dos Tonks. — Narcissa tinha os cabelos preto e dourados presos em um coque alto e elegante. Suas vestes eram de um verde escuro que combinada com o capuz da veste que Draco vestia por cima do terno.
O garoto ainda estava aflito sobre essa aventura. Natal sempre foi ele e seus pais. Uma festa pequena, onde a mãe lhe servia seus biscoitos favoritos enquanto ele abria os presentes. Em seguida, os elfos serviam o jantar e, às nove da noite, Draco já estava na cama, sonhando com o dia que começaria as aulas.
— Tem certeza que é seguro, mamãe?
— Claro, filho! Já mandei uma coruja para sua tia e ela está nos esperando com uma árvore de Natal colorida e uma ceia de Natal trouxa que eu tenho certeza que você vai gostar.
Draco franziu a testa. Ele já tinha escutado seu pai falar diversas vezes que trouxas não mereciam dominar aquele mundo e que o mundo bruxo era obrigado a se esconder porque eles eram burros demais para entender o que não conseguiam explicar com suas leis e ciência. Porém, ele era muito novo para entender o que aquilo significava.
Os olhos azuis do garoto brilhavam enquanto ele pegou o pó esverdeado e, com toda a força em seus pulmões, gritou “Residência dos Tonks” enquanto sua mãe aparatava para um mundo desconhecido para o pequeno Malfoy. Draco não era muito fã de viajar de Flu. Sempre o deixava enjoado e demorava e passar a tontura. Porém, não havia muitas formas de transporte para um bruxo menor de idade. Ele não via a hora de crescer e poder aparatar.
Assim que abriu os olhos, Draco viu apenas a poeira deixada pelo pó mágico. Precisou tossir algumas vezes antes de ver Narcissa, parada ao lado da lareira, lhe esticando a mão para que ele adentrasse o cômodo totalmente diferente dos da mansão Malfoy.
— Oi! — Uma garota com cabelos rosa e um nariz de porco pulou na sua frente.
Draco se assustou e se aproximou da sua mãe.
— Dê algum espaço para ele, Ninfadora! — Uma mulher de cabelos loiros e olhos verdes iguais aos da sua mãe chamou a garota.
— Não me chama de Ninfadora mãe! — Draco viu os cabelos da garota tomarem uma cor roxa escura e seu nariz arrebitado naturalmente voltar ao normal. Ele respirou aliviado em saber que aquela garota não tinha de fato um nariz animalesco. Ele não fazia ideia de como os trouxas eram.
— Draco, essa é sua prima Tonks e sua tia Andrômeda. Ninfadora é uma metamorfa, característica que ela herdou da nossa família. — Narcissa colocou a mão nas costas do filho, um sorriso relaxado nos seus lábios como Draco nunca tinha visto. Ela olhou para irmã com um pedido de desculpas silencioso enquanto o garoto apenas observava o lugar.
As paredes de tijolo, o céu mais claro do que ele estava acostumado, um sofá vermelho com almofadas e um tapete peludo compunham o ambiente em que eles se encontravam. Mais ao fundo tinha uma árvore de Natal enorme e toda colorida. Ele arregalou os olhos e sua reação não passou despercebida pela tia.
— Você quer ver a árvore? Venha! — Andrômeda esticou a mão para o garoto que, mesmo desconfiado, aceitou. — No mundo trouxa, o Natal é comemorado o nascimento de Jesus. É também uma data para se estar com a família, trocar presentes e lembrar que a maior magia do mundo ainda é o amor.
— Amor não é magia. Não tem como fazer amor com uma varinha. — O garoto franziu o cenho, achando toda aquela baboseira estranha.
Tonks segurou uma risadinha e recebeu um olhar bravo da mãe. Narcissa se sentou no chão e puxou Draco para perto de si.
— Amor não é o tipo de magia que você produz, Draco. Nós temos poções do amor, mas elas jamais podem causar amor de verdade.
Draco deu de ombros, ainda sem acreditar nessa conversa. Ele segurou a mão da sua mãe enquanto admirava o enorme pinheiro na sala.
— Nós também temos uma árvore de Natal, mas não é tão colorida. Eu gostei dessas luzinhas que piscam. — Draco esticou a mão para tocar uma das luzinhas verdes e sentiu o calor do pequeno objeto da sua palma — É quente!
— Sim, bobinho. Está ligado na tomada, olha. — Tonks apontou para um fio na parede que fez o garoto franzir o cenho. Ele começou a ficar inquieto, sentindo falta das velas flutuantes e brilho natural que a árvore da sua casa tinha. — Você gosta de quadribol?
Tonks perguntou para o garoto que ficou feliz em finalmente escutar algo que ele conhecia. Imediatamente ele se levantou, deixando de lado todas as dúvidas e receios que ele tinha sobre aquele mundo desconhecido.
— Quem não gosta?!
— Venha! Eu comprei uma vassoura nova e você pode usar a velha. A minha mãe escolheu nossa casa a dedo para que não ficasse tão longe do trabalho trouxa do pai, mas também pudéssemos fazer magia sem trouxas por perto. — O cabelo de Tonks mudou para um azul claro e os olhos de Draco brilharam.
— Eu nunca conheci uma metamorfa! O que mais você pode fazer?
Narcissa escutou a sobrinha contando sobre seus poderes para o filho. Ninfadora Tonks estava com quase 18 anos e em seu último ano em Hogwarts. Draco estava animado para perguntar a prima tudo sobre a escola, quais disciplinas ele iria cursar e o que ela queria fazer quando concluísse a escola.
Era a primeira vez que Draco tinha contato com outros bruxos que não o círculo íntimo do seu pai. Andrômeda se sentou no chão ao lado da irmã quando os mais novos já estavam no quintal discutindo sobre vassouras e quadribol.
— Qual o motivo da surpresa, Narcissa? — A voz de Andrômeda era um tom mais baixo do que usara com Draco. Tinha anos desde que Narcissa tinha estado sozinha com a irmã e, ainda assim, Drômeda era tudo, menos uma estranha.
— Eu queria que Draco conhecesse você e a Tonks. Quando Lucio falou que não iria passar o Natal com a gente, não pensei duas vezes em te mandar uma coruja.
— Como vocês estão?
— Levando um dia depois do outro. Eu me preocupo com Draco e toda a influência que o pai tem nele, mas...
— Mas Malfoy tem influência em você também. Eu sempre te avisei sobre ele.
— Está tarde para um "eu disse", Drômeda. — Narcissa desviou o olhar da irmã para o tipo da árvore de Natal, adornada com uma estrela coberta de glitter.
— Eu jamais falaria isso com você.
As irmãs Black ficaram em silêncio por alguns minutos. Do quintal, se ouvia o barulho das vassouras voando e os gritos de Tonks ensinando para Draco como voar sem se espatifar no chão. Narcissa sabia que o filho chegaria na primeira aula de voo em Hogwarts se achando porque ele já sabia voar.
— Vem, me ajuda com o jantar. — Andrômeda se levantou e esticou a mão para a irmã. A partir daquele momento o nome de Lucio Malfoy estava proibido naquela casa.
Tonks fazia imitações na sala de estar enquanto Draco ria das idiotices da prima. Narcissa estava feliz por ver como eles haviam ficado amigos tão rapidamente. Draco era a criança mais desconfiada que ela conhecia. Raramente ele se permitia ser ele mesmo e tinha a necessidade de se comportar como o pai em todas as situações possíveis. Era bom ver o filho ser ele mesmo pelo menos por uma noite.
Ted Tonks chegou pouco antes das seis horas e desde então tinha assumido a cozinha, fazendo uma sobremesa enquanto Narcissa e Andrômeda colocavam a conversa em dia. Nenhuma das duas falou sobre Bellatrix e Narcissa sentiu os papeis invertidos: Por algumas horas a irmã renegada era a Lestrange, esquecida em Askaban, enquanto a Tonks estava ali, viva, bonita e feliz.
— O que a Tonks pensa em fazer quando se formar? — Narcissa perguntou após tomar um gole do vinho tinto trouxa que ela odiaria ter que admitir que achara mais gostoso do que whisky de dragão.
— Não sei se ela já se decidiu, mas com as notas que fez nos N.O.M.s, tudo depende do seu N.I. E.M.s. Ela é apaixonada por Defesa contra as Artes das Trevas e sempre fala em se tornar auror, mas ela ainda tem um semestre. Talvez mude de ideia. — Andrômeda sorriu ao olhar para filha, tão diferente do que ela imaginara um dia, porém tão única e corajosa. — Na verdade eu espero que ela mude de ideia.
Andrômeda mais uma vez desviou o olhar, dessa vez para a mesa de centro com fotos de amigos e parentes mortos na Primeira Guerra. Narcissa acompanhou o olhar da irmã e ficou em silêncio. As duas irmãs eram a prova viva que não existe vencedor em uma guerra. Ambos os lados tem perdas profundas, marcas transmitidas para as próximas gerações e lacunas em noites como aquela. Natal era tempo de família, mas como se comemora família se não há uma família com quem dividir?
— Eu falei que ela deveria ir para uma faculdade trouxa cursar artes cênicas, mas essas duas nunca me levam a sério. — Ted serviu mais uma taça de vinho tinto para as irmãs Black.
— Artes cênicas? — Narcissa franziu o cenho, achando estranho o nome da profissão. — O que é isso? Algum tipo de Magia com potes?
— Nada de magia, irmã. — Os Tonks riram do comentário da Malfoy.
— Artes cênicas é um curso para pessoas que querem ser ator ou atrizes. Nele se ensina como agir em um palco, figurino, e muitas outras coisas. Com a habilidade natural metamorfa de Tonks, tenho certeza que ela conquistaria um Oscar — Ted tentou explicar, se enrolando mais ainda com as palavras desconhecidas para a bruxa puro sangue. Narcissa achou estranho o conceito de "filme" e ficou ainda mais assustada quando Andrômeda mostrou a ela uma fita VHS.
Tonks e Draco escolheram essa hora para entrarem na cozinha em busca de água, ambos cansados pelo esforço físico. Narcissa arrumou a franja loira de Draco e segurou um riso: Era a primeira vez que via o filho com o cabelo desarrumado. Ted então mostrou a fita VHS para Draco e convidou os Malfoy a participarem de uma das tradições de Natal da família Tonks: assistir filmes temáticos até a hora da ceia.
— Temos diversos tipos de filmes nessas fitas. Colocamos no aparelho e eles passam na Televisão. — Drômeda explicou com calma para Narcissa e Draco, que estava com os cabelos molhados de suor, enquanto Ted ligava a TV.
Draco arregalou os olhos quando viu a tela acessa e perguntou se as pessoas estavam presas ali. Tonks riu, mas explicou que era como os trouxas ficavam sabendo das notícias, ou pelo menos o mais próximo e lógico que ela conseguia explicar para um bruxo que foi criado completamente isolado do mundo trouxa.
— Eu tenho certeza que em breve o mundo bruxo vai começar a usar algumas dessas tecnologias da mesma forma que usamos trens e outros meios de transporte. — Tonks mostrou o relógio de pulso para Draco que achou útil o objeto. Saber as horas sempre que desejava deveria ser algo bom.
— Eu não entendo porque o mundo bruxo continua sendo tão isolado. Com suas regras e recusas a evolução. Agradeço a Ted todo dia por ter me apresentado coisas que a magia não pode fazer. — Andrômeda segurou na mão do marido que acabara de sentar ao seu lado.
Narcissa observou o comportamento da irmã e foi impossível não sentir inveja. Lucio nunca a tratara com carinho assim ou permitia que ela agisse com ele dessa forma. Era uma ternura que ela desconhecia. Uma vida que jamais seria a dela. Olhou para Draco se perguntando se o filho um dia teria o direito de viver um amor tão leve e puro assim.
Talvez, agora que o Lord Voldemort tinha sido derrotado, as coisas poderiam ser melhores para os Malfoy. A vida poderia ser mais fácil para Draco.
— Tia, você ficou sabendo que Harry Potter vai ser colega de Draco em Hogwarts? Não se fala de mais nada na escola e esse está sendo meu único arrependimento por formar em junho. — Tonks tirou Narcissa do seu devaneio e a bruxa sentiu um aperto no estômago. Ela não ouvia o nome Potter há dez anos e esperava que continuasse assim.
— Quem é Harry Potter? — Draco perguntou, já se imaginando fazendo amizade com o garoto na escola. Ele não via a hora de fazer amizade com todos os garotos da sua turma, salvo talvez os grifinórios.
Andrômeda olhou de Narcissa para Tonks, ela sabia o quanto esse assunto seria delicado entre elas. Escolhas que haviam sido feitas pela irmã. E ela conhecia Lucio Malfoy muito bem para saber como Draco estava sendo criado. Porém, Tonks não viu o alerta da mãe, ainda empolgada em compartilhar a notícia com o primo.
— Harry Potter é o bruxo que derrotou você-sabe-quem. Ninguém sabe como isso aconteceu porque ele ainda era um bebê na época. Mas desde aquela noite, ninguém nunca mais viu você-sabe-quem.
— Então ele é um bruxo poderoso! — Draco arregalou os olhos azuis, definitivamente fazendo planos em ter Harry Potter ao seu lado. — Onde Harry mora? Quem são seus pais?
O clima leve na sala foi embora assim que Draco, inocentemente, fez perguntas demais. Narcissa não falava sobre a derrota do Lord das Trevas, mas Lucio já havia contado a sua versão dos fatos para o filho. Nessa versão, o culpado de tudo era Sirius Black. Primo de Narcissa que havia traído duas vezes: primeiro a sua família e depois o seu melhor amigo.
Mas Narcissa sabia da verdade. Ela sabia que não era Sirius o dono do segredo dos Potter. E também sabia como ela e Lucio tinham escapado de Askaban por causa de Draco. Ela implorara para o marido ficar na mansão naquele dia, afinal, era Halloween e o filho tinha apenas um ano. Eles deveriam celebrar. Mal ela sabia que ali tinha traçado todo o seu destino e o de Draco.
— Ninguém sabe onde Harry mora, filho. Seus pais morreram na guerra e ele foi escondido por Dumbledore. Acho que todos nós estaremos aguardando sua coruja no ano que vem nos contando como é o Harry, especialmente se ele também for aceito na Sonserina como sei que você vai ser.
O cabelo de Tonks mudou de um rosa para cinza ao sentir a raiva pelo comentário tão purista. Porém ela soube ficar em silêncio. Sonserina era a casa da sua mãe e ela respeitava por isso, porém, ela era grata todos os dias por ter herdado os valores lufanos do seu pai. Ver como uma família purista como os Malfoy agiam era angustiante e frustrante. Ela rezou para que Draco caísse em outra casa, porém ela sabia que o chapéu seletor levava muito em consideração o desejo do bruxo. E o primo já usava o emblema da casa de Salazar Slytherin muito antes de sequer completar os onze anos.
— Vamos assistir ao filme? — Ted desviou o assunto afinal, ainda era Natal. Uma data para estar em família, mesmo que ela fosse completamente desajustada, quebrada e dividida por anos de ideais contraditórios. — Draco, esse filme se passa em Nova York. Você já conheceu Nova York?
— A da Inglaterra ou dos Estados Unidos, tio?
— A americana, filho. Coloque a cidade na sua lista de lugares para conhecer algum dia, vale a pena.
Draco assentiu e olhou para televisão, se envolvendo no enredo que passava na tela, recheada de músicas natalinas, árvores de natal e trilha sonora, se encantando por um mundo completamente diferente do que ele conhecia. Narcissa não fazia ideia do que se tratava o filme. Ela passou os próximos noventa minutos olhando do filho para Tonks, desejando que ele pudesse ser mais como a prima, mas sabendo que era tarde. Draco Malfoy tinha sido criado para agir como a cópia do pai com estranhos. Hogwarts não seria nada fácil para ele, especialmente se Harry Potter de fato fosse seu colega de turma.
Draco já estava sonolento depois do jantar e Narcissa sabia que eles precisavam ir embora. Porém, assim que ela falou com a irmã, Andrômeda disse que eles ainda tinham os presentes para abrir.
— Presentes? — Draco perguntou ao escutar a conversa. Como toda criança, uma das coisas que ele mais gostava do Natal era presentes, porém pensou que aquela celebração trouxa não teria presentes. Pelo menos não da forma como era em sua casa. Por um segundo, ele pensou se receber presentes ali significava que não teria novos brinquedos na manhã seguinte, mas recordou-se da promessa do pai de voltar da Escócia com diversas surpresas para o filho.
— Sim! E compramos coisas para vocês também. — Andrômeda respondeu indo até a árvore de Natal.
— Mas mãe, pensei que a gente ia esperar até amanhã, como todo ano.
— Esse ano é especial, Ninfadora. É a primeira vez que Draco passa a noite de Natal com a nossa família e ele merece uma experiência completa. — Andrômeda foi até o garoto sentado no sofá com três pacotes não muito grandes. — Feliz Natal, Draco.
— Obrigado, tia. — Ele olhou para mãe, sem saber se poderia receber, mas ansioso em rasgar a embalagem temática verde e vermelha. Narcissa sorriu para o filho que não perdeu tempo em abrir primeiro o pacote menor. — Um relógio igual ao da Tonks!
— Esse foi eu quem escolhi. Para você não perder a hora em Hogwarts. — Ninfadora falou animada.
— Obrigado! — Ele não demorou para abrir os outros dois pacotes: uma camisa da seleção da Inglaterra de futebol que o tio Ted tinha escolhido e um suéter com o emblema de Hogwarts. Draco não perdeu tempo em vestir o suéter e colocar o relógio no pulso. Ele estava apaixonado pelo relógio: a pulseira marrom, o visor branco com os ponteiros prateados. Tonks havia ensinado ele a olhar as horas e ele não via a hora de mostrar para o pai o presente. Mas, o garoto percebeu o olhar de Ted para a camisa deixada em seu colo. — Tio, eu gostei da camisa também, mas não entendo nada de esporte trouxa. Você pode me ensinar outro dia?
— Claro, Draco! Na próxima Copa do Mundo poderemos ir assistir.
— Tem Copa do Mundo de trouxa também?
— Eu tenho certeza que essa é uma linguagem oficial do esporte, mas te garanto que não chega nem aos pés da Copa do Mundo de Quadribol. — Ted piscou para o garoto que abriu um sorriso empolgado pelo convite.
Ted e Tonks começaram a conversar sobre futebol com Draco e Andrômeda aproveitou a distração para levar Narcissa até a cozinha e entregar-lhe o seu presente.
— Drômeda, você não deveria ter feito isso! Não trouxe nada para vocês...
— Você é minha convidada, Narcissa. E, acima de tudo, minha irmã.
A caixinha nas mãos de Andrômeda era bem menor do que as que ela havia entregado para Draco. Narcissa aceitou o presente com as mãos trêmulas, abrindo a embalagem dourada com receio do que Andrômeda Tonks poderia ter preparado. Porém, quando enfim viu as duas pequenas joias idênticas ela se assustou. Os brincos com pedras esmeraldas eram exatamente iguais aos que Narcissa costumava usar quando eram adolescentes. Ela os havia perdido durante a Primeira Guerra e nunca achou que os veria de novo.
— Eles estão enfeitiçados. Sempre que você precisar de mim, é só dar dois toques na pedra esquerda que daremos um jeito de entrar em contato. E não, não são rastreáveis.
Narcissa não soube o que falar, apenas trocou os brincos antigos pelos novos, com cuidado para não tocar nas pedras esverdeadas. Ela sorriu, talvez pela primeira vez na noite, ela deu um sorriso verdadeiro.
— Ficaram lindos!
— Obrigada Andrômeda. Por tudo. Pelos presentes, pelo jantar, pela noite. Draco precisava saber o que é uma família de verdade. E que ele tem uma, sempre que ele precisar.
— Ele sabe porque ele tem você. O quanto você ama esse menino é nítido, Narcissa. Você não estaria presa a Lucio até hoje se não fosse por causa do Draco. E eu tenho certeza que ele pode ser criança ainda, mas ele sabe. — Andrômeda segurou as mãos da irmã.
— Eu vou sentir tanta falta dele quando ele for para Hogwarts. Aquela mansão vai ficar silenciosa demais.
— Você sempre pode me chamar que te prometo que sua vida jamais será chata comigo.
Andrômeda abraçou Narcissa e a Malfoy sentiu lágrimas se formando em seus olhos. Draco pouco depois entrou na cozinha pedindo para mãe para irem embora e, juntos, entraram na lareira após se despedir dos Tonks. Narcissa deu uma boa olhada na pequena família coberta pela névoa de amor e magia que apenas no Natal era possível ver. A família como ela queria ter. Abraçou Draco e, juntos, voltaram para a Mansão dos Malfoy, mais fria do que ela se recordava que era.
Draco já estava de pijama, admirando mais uma vez o relógio que não queria guardar, quando Narcissa entrou em seu quarto com uma caneca de chocolate quente e a varinha em mãos.
— Gostou do seu Natal, filho?
— Eu amei, mãe! A Tonks é maravilhosa. Você sabia que ela quer ser auror? Eu posso ser auror também, né? — Draco puxou a coberta por cima das pernas aceitando o chocolate quente que a mãe lhe levava toda noite.
— Você pode ser o que você quiser, filho. — Narcissa deu um beijo no cabelo do garoto. — Agora tome seu leite e vamos dormir. Seu pai deve chegar amanhã bem cedo. E tenho certeza que ele vai trazer ainda mais presentes da Escócia.
Draco assentiu e colocou a caneca vazia na mesa de cabeceira, se virando para o lado ao deitar. Narcissa começou a cantarolar enquanto acariciava os cabelos platinados do filho. Fisicamente, Draco era a cópia de Lucio. Mas naquela noite, ele tinha provado que poderia ser muito mais do que um discípulo dos Malfoy.
Porém, apesar de Draco ter lhe prometido segredo, Narcissa não poderia correr o risco que Lucio descobrisse onde ela esteve. Ela guardou a camisa de futebol e o suéter de Draco em uma caixinha no fundo do armário do garoto, jogando um feitiço para que ele só pudesse abrir quando completasse dezessete anos. Até lá, ela esperava que a vida dos dois fosse outra.
Com lágrimas nos olhos e ainda sentindo o abraço que Andrômeda havia lhe dado, Narcissa segurou sua varinha e sussurrou.
— Obliviate!
Capítulo 2
Dezembro, 2019.
[n/a: Quem quiser entrar mais no clima da fic, procure no spotify a música Older the I Am da Lennon Stella]
Fazia seis meses que Astoria Malfoy havia morrido. Draco ainda não tinha tido coragem de tirar as coisas da esposa da biblioteca. Um mês após Astoria sucumbir à maldição de sangue, agravada para que Draco tivesse em Scorpius um pedaço de si com ele, Malfoy deixou que o filho fosse para casa dos Potter passar férias com o único amigo que ele havia feito em Hogwarts: Albus Severus Potter.
Draco sempre soube que ele e Harry poderiam ter sido bons amigos. Se não fosse o seu nome ou a forma como o pai o havia criado. Felizmente, Draco conhecera Astoria depois da guerra. A esposa tinha sido a responsável por fazê-lo enfim romper os laços com seus pais e seguir a vida que ele acreditava. Ele odiava quem ele teve que ser em Hogwarts. Odiava a marca em seu braço que representava tudo que ele nunca quis ser.
Mas, apesar de ter ficado um mês sozinho na mansão, isolado em seu laboratório perdido em formulas e experimentos de alquimia, foi apenas quando primeiro de setembro chegou que Draco percebeu o vazio que Astoria havia deixado na sua família. Sem ela, ele se sentia perdido. Como ensinar Scorpius a ser ele mesmo se Draco ainda estava aprendendo a deixar antigos hábitos para trás? Como ser um exemplo para o filho se ele mesmo nunca teve um exemplo a seguir?
Scorpius voltara para casa no Natal com novas histórias da escola. Ele sorria contanto para o pai o que ele e Albus aprontavam e, apesar de ficar em silêncio, Draco sorria. Ele lembrava das encrencas que ele e Potter sempre se metiam, mesmo que às vezes faziam isso para irritar um ao outro. Draco estava feliz que Scorpius estava tendo uma boa educação. Uma escola sem guerra, onde o mundo bruxa e o mundo trouxa estava mais próximo afinal, como fazer nascidos trouxas e mestiços não levarem seus aparelhos de telefone para escola?
No jantar, Draco escutou o filho contar sobre as aulas do terceiro ano, sobre seus colegas e em como a escola não era nada de como Draco vivera nos anos 1990.
— Pai, você sabia que existe uma coisa chamada GIF? É engraçado porque são fotos trouxas que se mexem. De inicio eu achei que fosse magia, mas não! É algo que eles chamam de tecnologia. — Scorpius tinha uma energia de viver que era contagiante. Quando o filho estava por perto, Draco se sentia mais leve. Ele se sentia ele mesmo.
Talvez Astoria tivesse mesmo deixando um pedaço dela no filho.
— Você quer um telefone de presente? — Draco perguntou, ainda sem saber o que compraria de presente de Natal. Era sempre Astoria que escolhia os presentes de Scorpius.
— Nah. São coisas muito complicadas. — Scorpius tomou uma colher da sopa que havia servido. — Albus chamou a gente para passar o ano novo com os Potter. Parece que o pai dele vai lhe mandar uma carta para reforçar o convite.
Draco sorriu. Duvidava que Harry fosse mesmo convidá-lo para a festa em família. E, mesmo se os chamassem, seria por piedade. Draco ainda era muito orgulhoso para aceitar piedade, especialmente vinda de Harry Potter.
— Você pode ir, filho. Não acho que eu seja bem vindo na casa dos Weasley-Potter.
Scorpuis deixou os talheres ao lado do prato e olhou sério para o pai. Pela primeira vez, a posição dos dois se invertiam e Draco apenas sentiu orgulho do filho. Ele era o completo oposto de quem Draco tinha sido.
— Eu só vou se você for, pai. Não vou deixar você sozinho na primeira virada do ano sem a mamãe. E muito menos que você vá para casa da vovó. Você não fala, mas eu sei como você odeia aquele lugar. — Draco sentiu seus olhos se encherem de lágrimas e mordeu o lábio para que o filho não visse. — Um dia, quando você estiver pronto, eu quero que você me conte, pai. Quero que você me conte como foi crescer com o vovô, como foi lutar na guerra, como foi ter Harry Potter como colega de turma. Eu não sou muito novo para entender, sabe? Especialmente depois do que falam em Hogwarts.
Draco assentiu, sem mais conseguir segurar as lágrimas. Scorpius se levantou e foi até ele, sentando no colo do pai para abraçá-lo como sempre fez desde criança. Agora, o garoto estava alto, mas Draco ainda conseguia abriga-lo em seu colo. E o faria sempre que o filho precisasse.
Juntos, eles passaram a noite conversando sobre Astoria, jogando xadrez bruxo e fazendo planos para o ano que iria começar. Astoria nunca quis que sua morte precoce, certa desde muito antes dela e Draco se apaixonassem, definisse a vida dele e do filho. E Draco faria de tudo para honrar a memória da esposa.
...
— Pai, acorda! Está nevando! — Scorpius invadiu o quarto de Draco, abrindo as janelas e deixando que a luz do sol entrasse.
Era véspera de Natal e Draco se sentia mais abatido do que nunca. O peso de estar só mais uma vez chegara. Ele sabia que um dia o filho teria uma vida própria e, mais uma vez, ele estaria sozinho. Mas naquele dia, ele afastou esses pensamentos e se levantou.
Scorpius já estava no quintal fazendo bolas de neve quando Draco vestiu o pesado casaco para se juntar ao filho. O Malfoy mais velho pegou uma bola de neve arremessada em sua direção e riu.
— Você realmente quis surpreender um ex-apanhador? — Draco falou arremessando a bola de neve de volta no filho.
— Nem todos nós podemos ser astros no quadribol.
— É, acho que não. — Scorpius tentara entrar no time da Sonserina no inicio do ano letivo, mas o Malfoy mais novo tinha a coordenação motora de um hipogrifo e uma mente brilhante para feitiços, participando do clube de duelos e sempre ganhando pontos para sua casa. — Mas eu tenho certeza que você sabe fazer um Expeliarmus melhor que o meu.
Scorpius abriu um sorriso, orgulhoso das suas conquistas em Hogwarts. Mas, antes que pudesse responder ao pai, ele viu uma pessoa aparatando no portão que protegia a casa, franzindo a testa para ter certeza que não estava vendo errado.
— Vovó?
Draco estava de costas e se assustou ao se virar para ver a mãe parada no portão de ferro. O cabelo mais branco do que ele se lembrava, e o rosto com mais marcas do tempo, mas Narcissa Malfoy continuava exibindo uma postura impecável, sempre confiante de si, mesmo que Draco soubesse que tudo isso era apenas uma fachada.
— Mãe? O que você está fazendo aqui?
— Oras, vim trazer presentes de Natal para meu filho e pro meu neto.
...
— Scorpius, vai na cozinha ver se os elfos estão precisando de ajuda com o jantar. — Draco era tão rico quanto seus pais após ter herdado partes das empresas do pai quando este foi sentenciado pelos crimes cometidos na guerra. Porém, Draco fez questão de contratar Elfos livres uma vez que ele sabia que em breve Hermione, próxima ministra da magia, conseguiria acabar com a escravidão de seres mágicos.
— Está bom, pai. — Scorpius olhou desconfiado de Draco para a avó, mas ainda assim obedeceu.
Draco deixou que Narcissa entrasse em casa, mas não esboçou um sorriso e muito menos ofereceu para guardar o casaco da mãe. Após fechar a porta ele cruzou os braços e a encarou.
— O que você está fazendo aqui? Achei que tinha deixado bem claro que eu não quero vocês na vida de Scorpius.
No funeral de Astoria, Lucio e Narcissa estiveram presentes, mais para o social do que para apoiar o filho. Eles nunca gostaram da nora e não concordavam com a forma que Draco estava criando o filho, tão longe dos ideais das famílias puras. Ou pelo menos, era isso que Lucio disse para Draco assim que saíram do cemitério, propondo para o filho escolher uma nova esposa para ele, uma que fosse parte dos sagrados vinte e oito.
Naquele dia, Draco finalmente falou a verdade para os pais. Com a dor de perder Astoria ainda tão presente, ele deixou claro que nunca concordou com a forma que ele cresceu e que teria para sempre marcas no seu corpo para se lembrar da infância abusiva que havia sido sujeitado. Ele preferia ficar sozinho a colocar Scrpius, o filho a quem Astoria havia dado a vida para terem, no meio da cultura preconceituosa que ele havia crescido.
Draco se prometeu jamais falar com os pais novamente. E Lucio tinha concordado. Ele passou pelo luto sozinho, como ele preferia que fosse. Estava programando um Natal cheio das tradições de Astoria, algo que eles haviam criado juntos depois que Scorpius nasceu. Draco não ia deixar que a presença de Narcissa estragasse o Natal do filho.
— Eu disse! Vim trazer presentes. — Narcissa levantou a sacola que parecia pequena, mas Draco sabia que estava enfeitiçada para caber mais coisas do que era visível. — E eu tenho uma novidade. Podemos conversar no seu escritório?
Narcissa esticou os olhos para olhar através de Draco, procurando ver se Scorpius estava ouvindo a conversa atrás da parede como Draco fazia quando era criança. Malfoy olhou para trás tentando entender o que a mãe estava vendo quando se lembrou.
— Eu conto a verdade para Scorpius. Ele não precisa ouvir atrás da porta. — A voz do, agora, homem, era grossa e seca. Ele não queria a mãe ali e deixaria isso claro para ela. Porém, preferia saber o que ela tinha para dizer do que acordar no dia seguinte descobrindo uma nova onda de seguidores de Lord Voldemort e puristas mais uma vez querendo o controle do mundo bruxo. Especialmente agora que as coisas pareciam estar em tanta harmonia. — Vamos para o escritório.
Draco levantou o braço indicando o caminho e Narcissa seguiu na frente. Chegaram na porta escura no final do corredor, e Draco virou a maçaneta, exibindo um cômodo arrumado. A prateleira de livros catalogada como em uma biblioteca, uma área com caldeirões e ingredientes para as mais diversas poções e sua escrivaninha era a única parte do cômodo que, a olho nu, parecia bagunçada. Porém, Draco deixava todos os seus trabalhos metodicamente arrumados em pilhas, separados por datas e nível de importância. Atrás da sua cadeira preta, um quadro de Astoria e Scorpius era exibido. A imagem era a parte mais atrativa do cômodo e Narcissa perdeu a voz ao vê-la.
Draco tentava fugir de seu pai, mas ele continuava sendo a cópia do pai. O mesmo gosto por móveis, a mesma exigência. Mas, como Narcissa sabia desde que ele era criança, Draco não era nada parecido com Lucio em seu interior. Aquele quadro e todo o restante da casa mostrava como Draco Malfoy era uma pessoa boa. Uma pessoa que se importava com os outros e, especialmente, que se importava com sua família.
— Bem mãe, o que é tão importante que você não poderia mandar uma coruja? — Draco se sentou na cadeira atrás da escrivaninha e fez sinal para que a mãe ocupasse um lugar à sua frente.
— Você já está grade, está cuidando do Scorpius muito melhor do que eu imaginei, especialmente agora sem a Astoria. O Ted Lupin se mudou para Londres com a Victorie, também está seguindo sua vida. — Draco franziu o cenho, sem entender porque a mãe estava falando do filho de Remo Lupin. — Então eu e sua tia, Andrômeda, resolvemos que está na hora de seguirmos a nossa vida.
— O que... — A pergunta de Draco foi tão baixa que Narcissa quase não conseguiu ouvir.
— Eu estou finalmente deixando seu pai, Draco. Vou me mudar para os Estados Unidos com minha irmã. Vamos viver a vida que nós duas sempre sonhamos quando adolescentes. Está na hora de deixar a sua geração cuidar do mundo bruxo.
Draco ficou sem palavras, apenas encarando a mãe. Ele sabia que o tio Ted tinha morrido alguns anos antes, mas não fazia ideia que Narcissa ainda mantinha contato com Andrômeda. E estava mais assustado ainda pela decisão da mãe.
— Como Lucio encarou isso? — Draco cruzou as mãos em cima da mesa, se aproximando ainda mais da sua mãe, analisando casa traço no rosto da mulher em busca de qualquer traço de mentiras. Não encontrou nada.
— Isso não vem ao caso. Porém, vamos pegar um avião logo depois do Natal. Foi por isso que quis vir, filho. Precisava me despedir de vocês e, sobretudo, te pedir desculpas.
— Desculpas? — Draco tinha um semblante ansioso, confuso com as palavras da mãe. Ele passou as mãos nos cabelos, bagunçando os fios curtos que mantinha. Sempre buscando ser o oposto do pai.
Narcissa tirou uma caixa de dentro da sacola e colocou em cima da mesa do filho. Com a varinha, executou um feitiço silencioso, desfazendo o fecho.
— Quando você tinha dez anos, teve o primeiro Natal verdadeiramente em família. Seu pai tinha ido para Escócia, então eu levei você para casa da sua tia Andrômeda. Lá, você teve seu primeiro contato com o mundo trouxa. Brincou com Tonks, a mãe de Ted, você lembra dela? — Draco assentiu, apesar de ter recordações efêmeras da prima. — Lá você ganhou três presentes: esse suéter de Hogwarts, uma camisa da seleção inglesa de futebol, e esse relógio, que por algum motivo eu esqueci de tirar de você.
Draco colocou a mão no próprio punho, sentindo o objeto que ele raramente tirava. Ele nunca soube como ganhou e Narcissa disse a ele que havia sido herança de família, mas ele sempre teve um carinho inexplicável pelo relógio.
— Quem lhe deu esse relógio foi a Tonks. Ela tinha um igual.
— Por que eu não lembro disso, mãe? — O homem perguntou, tirando da caixa o suéter que agora não lhe servia mais. Nem em Scorpius aquelas roupas serviriam. Seriam objetos perdidos no tempo, de uma vida anterior e distante. De um conto de fadas que Draco nunca tinha escutado.
Narcissa começou a chorar. Ela não queria que as lágrimas caíssem assim. Não queria que Draco pensasse que estava usando o choro para lhe comover. Era longe disso. Assim como o filho, Narcissa havia se escondido por anos e apenas agora que ela se sentia confortável em ser ela mesma. Longe de Lucio, longe da Inglaterra.
— Eu fiquei com medo do seu pai descobrir, filho. Tinha medo do que ele poderia fazer conosco. Então, fiz uma escolha egoísta. Uma das muitas que fizemos nas nossas vidas. Apaguei as suas lembranças daquela noite, me convencendo que quando você chegasse a maior idade eu te contaria, mas então...
— Eu havia me tornado um comensal da morte e nossa casa era o novo quartel general do Lord das Trevas.
Narcissa assentiu, ainda com as lágrimas escorrendo. Havia sido a pior época da sua vida e da de Draco. E, toda vez que ela olhava para o filho, hoje um homem formado que havia dado a volta por cima, ela se sentia orgulho.
— Meu presente para você, acompanhado de um pedido de desculpas, é retornar a sua memória daquele Natal. Você merece se lembrar da sua prima, uma mulher corajosa que morreu para proteger sua família. Você merece se lembrar da sua tia, uma bruxa fantástica que teve a mesma coragem que a sua esposa: dar as costas para as ideias tradicionalistas das famílias puro sangue. Eu fiz o que fiz para te proteger, mas não preciso mais disso. Hoje, você é mais forte do que eu jamais fui.
Draco sacudiu a cabeça, sentindo as lágrimas também caírem, e se levantou, ajoelhando-se ao lado da mãe.
— Você deu a sua vida para me proteger, mamãe. Você sempre me mandava doces quando eu estava em Hogwarts, mesmo naquele ano. — Draco enfatizou as duas palavras, o ano em que nenhum dos dois falava sobre. — Você me ensinou o que era amor, mamãe. Se hoje eu consigo amar o Scorpius e cuidar dele como ele merece, foi porque você cuidou de mim, apesar de tudo que Lucio fez com a gente. Eu não faço questão de me recordar daquele Natal porque todo Natal você fazia com que fosse especial. Mas, é a sua família. E você merece que eu lembre deles como você se lembra.
Narcissa acariciou os cabelos platinados do filho, tão macios quanto ela se lembrava. Ela pegou a varinha e, silenciosamente, fez com que Draco se recordasse. O cabelo cor de rosa de Tonks, a risada do tio Ted, o abraço da tia Andrômeda. O cheiro de biscoitos de natal, o filme na televisão, o voo na vassoura da Tonks.
Draco se sentiu estranho conhecendo memórias que ele não sabia que tinha. Mas, ao mesmo tempo, se sentiu amado. Apesar do que ele sempre pensou, do que seu pai sempre quis que ele pensasse, ele era amado. Ele não estaria sozinho.
— Mãe, quando você e tia Drômeda estiverem estabelecidas nos Estados Unidos e Scorpius estiver em Hogwarts, tudo bem eu visitar vocês?
Narcissa sorriu, se levantando com Draco para que pudesse lhe abraçar.
— Claro, meu filho. Você sempre terá um espaço na minha vida.
...
— Pai, a carta dos Potter che... O que aconteceu? — Scorpius entrou no escritório do pai e encontrou Draco e Narcissa abraçados. Scorpius sabia que eles não se davam bem há anos, e logo imaginou os piores cenários possíveis. O garoto tinha experiências ruins o suficiente para preencher todas as lacunas da sua criatividade.
Draco, por sua vez, soltou-se do abraço da mãe e sorriu para o filho, acenando para que ele se aproximasse.
— Não tem nada de errado acontecendo, apenas coisas boas, filho. — Draco abraçou Scorpius pelos ombros, trazendo o filho para perto de si. — A vovó está mudando para os Estados Unidos com a Tia Andrômeda, a avá do Ted, você lembra dela?
— Aham. — Scorpius olhou para a avó, seu olhar muito mais terno e tranquilo do que o de Draco sempre foi. — E a gente vai poder te visitar, vó?
— Claro, meu filho. Sempre que vocês quiserem. — Ela puxou a sacola de presentes e tirou de lá uma caixinha pequena, entregando-a para Scorpius. — Primeiro presente de Natal. Terão outros, mas esses só depois da ceia... Isso é, eu posso passar Natal com vocês?
Narcisa virou o olhar para Draco que sorriu. Não seria um Natal vazio como ele tinha imaginado. Seria um Natal rico de amor, surpresas e, sem dúvidas, com presentes muito melhores do que os que ele havia escolhido. Narcissa sempre soube escolher os melhores presentes.
— Claro, mãe. Não esperaria diferente.
— O que é isso? — Scorpius abriu a caixinha, tentando entender porque a avó estava lhe dando um anel de presente.
— Isso, é o anel da família Malfoy. Seu avô tinha um, seu pai tem um e agora você também poderá usá-lo com orgulho.
Scorpius olhou para o pai com um pedido de ajuda. Draco havia sumido com o anel da família Malfoy quando os boatos que seu filho seria fruto de uma relação de Astoria com Voldemort e que a família Malfoy estaria condenada. Draco e Scorpius sabiam que nada disso era verdade, mas ainda assim precisaram lidar com as mentiras quando Astoria começou a enfraquecer.
Eles já haviam vivido muitas vidas para se importar com coisas fúteis como um anel de família. Porém, para Narcissa, aquilo era importante. Scorpius entendeu o olhar de Draco para ele. Não era obrigado a aceitar, mas Scorpius sabia qual seria o certo a fazer.
— Obrigado vó. — Ele tentou dizer com o maior entusiasmo possível enquanto deslizada o anel pelo dedo, servindo perfeitamente no seu indicador direito.
Narcissa fingiu não ver o olhar entre pai e filho. Notou que Draco não usava o anel da família Malfoy e entendeu que eles não sentiam orgulho em carregar o nome Malfoy. Entretanto, para ela, os dois eram os maiores motivos de se orgulharem.
...
A ceia de Natal tinha os pratos favoritos de Astoria. Scorpius pediu para o pai se poderiam homenagear a mãe e Draco gostou da ideia. O cardápio não era nada tradicional, mas o cheiro fez Draco se recordar dos anos anteriores ao nascimento do filho.
Uma época em que ele ainda se recuperava, assim como o mundo bruxo. Talvez, o momento em sua vida que ele mais esteve só. E, ainda assim, Astoria o encontrou. A sua forma leve de encarar a vida, o sorriso sempre no rosto. Sua habilidade na cozinha e como ela enxergava Draco melhor do que ele mesmo.
A saudade que Draco sentia da esposa jamais iria passar. Ninguém nunca seria capaz de ocupar o espaço em seu coração destinado a Astoria Greengrass-Malfoy.
Ele se sentou a mesa na cabeceira e Narcissa se sentou no lado oposto. Scorpius ficou ao meio da mesa retangular. Ela não era grande. Nada na casa de Draco e Scorpius era exagerado. Tudo havia sido comprado com o maior bom gosto possível.
Os três começaram a comer em silêncio, mas Scorpius continuava pensando nos boatos que escutara na escola. Ele tinha medo de voltar e descobrir que eram verdade. Que seu pai nem sempre havia sido o homem carinhoso que ele conhecia.
— Papai, é verdade que você lutou ao lado de você-sabe-quem? — Scorpius levantou os olhos azuis para Draco que estava sentado na ponta da mesa. O mais velho chegou a hesitar, mas foi Narcissa quem respondeu para o neto.
— Seu pai lutou ao meu lado. Ele sempre foi uma pessoa que se preocupava com a família e com quem ele ama. Desde muito jovem. Draco esteve ao meu lado quando ninguém mais estava, nem mesmo seu avô, Lucio. — A bruxa cruzou as mãos em cima da mesa e esticou a coluna, de forma que as marcas de uma vida de submissão ficassem de lado por alguns instantes. — Scorpius, eu sei que você deve escutar muito sobre a família Malfoy e a família Black na escola. Eu sempre me preocupei com o seu pai por carregar um fardo que não era dele e agora eu me preocupo com você. Porém, você deve levar o nome Malfoy com orgulho. Depois da guerra, seu pai fez questão de reconstruir o legado da nossa família, e se permitiu ser o homem gentil que a raiva não o deixava ser. Sua mãe sabia disso. Foi esse lado desconhecido de Draco que fez com que Astoria se apaixonasse por ele. E foi esse amor que a fez colocar a própria vida em risco para que você nascesse. Ela não queria deixar seu pai sozinho porque ele já tinha estado sozinho por muito tempo. Apesar de tudo que você ouviu na escola, saiba que seu pai sempre vai estar presente por você. Ele nunca mediu esforços para proteger quem ele ama. Nem mesmo quando isso colocou a própria vida em risco.
Narcissa olhou para o filho com admiração. Draco tinha lágrimas nos olhos e a cicatriz da marca negra ainda ardia em seu antebraço. As dores das torturas emocionais eram maiores do que os traços físicos que marcavam a sua pele.
Após a guerra, Draco quis ir para o mais longe possível dos pais. E, de repente, o garoto que tinha tudo passou a não ter nada. Não tinha amigos, não tinha família, não tinha ele mesmo. O tempo fez com que Draco precisasse se redescobrir e, no meio dessa jornada, permitiu que Astoria entrasse em sua vida. Permitiu que ela o conhecesse como ninguém antes foi capaz.
Narcissa pareceu ler os pensamentos do filho quando continuou.
— O nome Malfoy por muito tempo foi ligado às artes das trevas. Porém, não era o único. Hoje, está na mão de vocês dois mostrarem que os Malfoy não são mais a família preconceituosa que um dia foram. Agora, cabe a vocês mudarem o legado e usarem o nome com orgulho. Vocês dois merecem isso.
Draco olhou para mãe, lendo em seus olhos palavras não ditas, sentimentos encobertos e memórias que deveriam ser apenas isso: memórias. Ele se lembrou como usava o anel frouxo no dedo depois que ganhou de presente aos onze anos. Como exibiu para os amigos na escola e todas as oportunidades boas que o nome Malfoy lhe trouxera. Havia a parte ruim, mas ele também conhecia as partes boas.
— Use esse anel com orgulho, filho. — Draco apontou para a mão direita do filho. — Eu usava. E, quer saber, vou voltar a usar.
Draco se levantou e foi até o escritório, retornando à sala com o anel prateado no dedo.
— Eu nunca entendi o orgulho vindo da família. Lucio havia me ensinado que o nome Malfoy era sinônimo de poder, riqueza, sucesso. Ele me contava histórias e me fazia acreditar que eu conseguiria tudo apenas por ter o sobrenome Malfoy. — Draco se sentou, olhando nos olhos de Scorpius. — Mas acho que só agora eu entendi. Usar o nome com orgulho não é o mesmo que usá-lo com avareza. Usar nosso sobrenome com orgulho significa que valorizamos os nossos, temos orgulho da nossa história e queremos construir um futuro melhor para as próximas gerações. Foi isso que eu e sua mãe fizemos enquanto lutávamos tanto para ter você, Scorpius. Você é a nova geração Malfoy. A geração que vai levar essa família, enfim, para o lado correto da história. Narcissa está certa, tenha orgulho desse sobrenome. E o use com respeito.
Scorpius assentiu, compreendendo que esses valores não eram tão diferentes assim do que sua casa em Hogwarts, Sonserina, pregava. No fim, era por esse tipo de orgulho que todos os Malfoy iam para casa de Salazar Slytherin.
Após a ceia de Natal, Narcissa entregou-lhes os presentes. Draco também presenteou Scorpius com alguns livros de poções, alquimia e feitiços. Despediram de Narcissa desejando uma nova vida para ela e prometendo que lhe escreveriam sempre que possível. Ficou combinado que Draco iria para Nova York encontrar a mãe no final de janeiro, após Scorpius estar de volta à escola.
Juntos, antes de irem dormir, Draco e Scorpius responderam a carta de Harry Potter, confirmando que ambos iriam estar presentes na Toca para o ano novo. Scorpius foi dormir ansioso em ver o amigo na semana seguinte. Draco, por outro lado, tinha receio de como seria reencontrar o rival da época da escola. Entretanto, ele tinha certeza que Potter não era mais o mesmo dos tempos de Hogwarts, assim como Draco nem conseguia mais se recordar de quem era na escola.
Talvez, o que ele precisava era exatamente isso: um novo começo.
[n/a: Quem quiser entrar mais no clima da fic, procure no spotify a música Older the I Am da Lennon Stella]
Fazia seis meses que Astoria Malfoy havia morrido. Draco ainda não tinha tido coragem de tirar as coisas da esposa da biblioteca. Um mês após Astoria sucumbir à maldição de sangue, agravada para que Draco tivesse em Scorpius um pedaço de si com ele, Malfoy deixou que o filho fosse para casa dos Potter passar férias com o único amigo que ele havia feito em Hogwarts: Albus Severus Potter.
Draco sempre soube que ele e Harry poderiam ter sido bons amigos. Se não fosse o seu nome ou a forma como o pai o havia criado. Felizmente, Draco conhecera Astoria depois da guerra. A esposa tinha sido a responsável por fazê-lo enfim romper os laços com seus pais e seguir a vida que ele acreditava. Ele odiava quem ele teve que ser em Hogwarts. Odiava a marca em seu braço que representava tudo que ele nunca quis ser.
Mas, apesar de ter ficado um mês sozinho na mansão, isolado em seu laboratório perdido em formulas e experimentos de alquimia, foi apenas quando primeiro de setembro chegou que Draco percebeu o vazio que Astoria havia deixado na sua família. Sem ela, ele se sentia perdido. Como ensinar Scorpius a ser ele mesmo se Draco ainda estava aprendendo a deixar antigos hábitos para trás? Como ser um exemplo para o filho se ele mesmo nunca teve um exemplo a seguir?
Scorpius voltara para casa no Natal com novas histórias da escola. Ele sorria contanto para o pai o que ele e Albus aprontavam e, apesar de ficar em silêncio, Draco sorria. Ele lembrava das encrencas que ele e Potter sempre se metiam, mesmo que às vezes faziam isso para irritar um ao outro. Draco estava feliz que Scorpius estava tendo uma boa educação. Uma escola sem guerra, onde o mundo bruxa e o mundo trouxa estava mais próximo afinal, como fazer nascidos trouxas e mestiços não levarem seus aparelhos de telefone para escola?
No jantar, Draco escutou o filho contar sobre as aulas do terceiro ano, sobre seus colegas e em como a escola não era nada de como Draco vivera nos anos 1990.
— Pai, você sabia que existe uma coisa chamada GIF? É engraçado porque são fotos trouxas que se mexem. De inicio eu achei que fosse magia, mas não! É algo que eles chamam de tecnologia. — Scorpius tinha uma energia de viver que era contagiante. Quando o filho estava por perto, Draco se sentia mais leve. Ele se sentia ele mesmo.
Talvez Astoria tivesse mesmo deixando um pedaço dela no filho.
— Você quer um telefone de presente? — Draco perguntou, ainda sem saber o que compraria de presente de Natal. Era sempre Astoria que escolhia os presentes de Scorpius.
— Nah. São coisas muito complicadas. — Scorpius tomou uma colher da sopa que havia servido. — Albus chamou a gente para passar o ano novo com os Potter. Parece que o pai dele vai lhe mandar uma carta para reforçar o convite.
Draco sorriu. Duvidava que Harry fosse mesmo convidá-lo para a festa em família. E, mesmo se os chamassem, seria por piedade. Draco ainda era muito orgulhoso para aceitar piedade, especialmente vinda de Harry Potter.
— Você pode ir, filho. Não acho que eu seja bem vindo na casa dos Weasley-Potter.
Scorpuis deixou os talheres ao lado do prato e olhou sério para o pai. Pela primeira vez, a posição dos dois se invertiam e Draco apenas sentiu orgulho do filho. Ele era o completo oposto de quem Draco tinha sido.
— Eu só vou se você for, pai. Não vou deixar você sozinho na primeira virada do ano sem a mamãe. E muito menos que você vá para casa da vovó. Você não fala, mas eu sei como você odeia aquele lugar. — Draco sentiu seus olhos se encherem de lágrimas e mordeu o lábio para que o filho não visse. — Um dia, quando você estiver pronto, eu quero que você me conte, pai. Quero que você me conte como foi crescer com o vovô, como foi lutar na guerra, como foi ter Harry Potter como colega de turma. Eu não sou muito novo para entender, sabe? Especialmente depois do que falam em Hogwarts.
Draco assentiu, sem mais conseguir segurar as lágrimas. Scorpius se levantou e foi até ele, sentando no colo do pai para abraçá-lo como sempre fez desde criança. Agora, o garoto estava alto, mas Draco ainda conseguia abriga-lo em seu colo. E o faria sempre que o filho precisasse.
Juntos, eles passaram a noite conversando sobre Astoria, jogando xadrez bruxo e fazendo planos para o ano que iria começar. Astoria nunca quis que sua morte precoce, certa desde muito antes dela e Draco se apaixonassem, definisse a vida dele e do filho. E Draco faria de tudo para honrar a memória da esposa.
...
— Pai, acorda! Está nevando! — Scorpius invadiu o quarto de Draco, abrindo as janelas e deixando que a luz do sol entrasse.
Era véspera de Natal e Draco se sentia mais abatido do que nunca. O peso de estar só mais uma vez chegara. Ele sabia que um dia o filho teria uma vida própria e, mais uma vez, ele estaria sozinho. Mas naquele dia, ele afastou esses pensamentos e se levantou.
Scorpius já estava no quintal fazendo bolas de neve quando Draco vestiu o pesado casaco para se juntar ao filho. O Malfoy mais velho pegou uma bola de neve arremessada em sua direção e riu.
— Você realmente quis surpreender um ex-apanhador? — Draco falou arremessando a bola de neve de volta no filho.
— Nem todos nós podemos ser astros no quadribol.
— É, acho que não. — Scorpius tentara entrar no time da Sonserina no inicio do ano letivo, mas o Malfoy mais novo tinha a coordenação motora de um hipogrifo e uma mente brilhante para feitiços, participando do clube de duelos e sempre ganhando pontos para sua casa. — Mas eu tenho certeza que você sabe fazer um Expeliarmus melhor que o meu.
Scorpius abriu um sorriso, orgulhoso das suas conquistas em Hogwarts. Mas, antes que pudesse responder ao pai, ele viu uma pessoa aparatando no portão que protegia a casa, franzindo a testa para ter certeza que não estava vendo errado.
— Vovó?
Draco estava de costas e se assustou ao se virar para ver a mãe parada no portão de ferro. O cabelo mais branco do que ele se lembrava, e o rosto com mais marcas do tempo, mas Narcissa Malfoy continuava exibindo uma postura impecável, sempre confiante de si, mesmo que Draco soubesse que tudo isso era apenas uma fachada.
— Mãe? O que você está fazendo aqui?
— Oras, vim trazer presentes de Natal para meu filho e pro meu neto.
— Scorpius, vai na cozinha ver se os elfos estão precisando de ajuda com o jantar. — Draco era tão rico quanto seus pais após ter herdado partes das empresas do pai quando este foi sentenciado pelos crimes cometidos na guerra. Porém, Draco fez questão de contratar Elfos livres uma vez que ele sabia que em breve Hermione, próxima ministra da magia, conseguiria acabar com a escravidão de seres mágicos.
— Está bom, pai. — Scorpius olhou desconfiado de Draco para a avó, mas ainda assim obedeceu.
Draco deixou que Narcissa entrasse em casa, mas não esboçou um sorriso e muito menos ofereceu para guardar o casaco da mãe. Após fechar a porta ele cruzou os braços e a encarou.
— O que você está fazendo aqui? Achei que tinha deixado bem claro que eu não quero vocês na vida de Scorpius.
No funeral de Astoria, Lucio e Narcissa estiveram presentes, mais para o social do que para apoiar o filho. Eles nunca gostaram da nora e não concordavam com a forma que Draco estava criando o filho, tão longe dos ideais das famílias puras. Ou pelo menos, era isso que Lucio disse para Draco assim que saíram do cemitério, propondo para o filho escolher uma nova esposa para ele, uma que fosse parte dos sagrados vinte e oito.
Naquele dia, Draco finalmente falou a verdade para os pais. Com a dor de perder Astoria ainda tão presente, ele deixou claro que nunca concordou com a forma que ele cresceu e que teria para sempre marcas no seu corpo para se lembrar da infância abusiva que havia sido sujeitado. Ele preferia ficar sozinho a colocar Scrpius, o filho a quem Astoria havia dado a vida para terem, no meio da cultura preconceituosa que ele havia crescido.
Draco se prometeu jamais falar com os pais novamente. E Lucio tinha concordado. Ele passou pelo luto sozinho, como ele preferia que fosse. Estava programando um Natal cheio das tradições de Astoria, algo que eles haviam criado juntos depois que Scorpius nasceu. Draco não ia deixar que a presença de Narcissa estragasse o Natal do filho.
— Eu disse! Vim trazer presentes. — Narcissa levantou a sacola que parecia pequena, mas Draco sabia que estava enfeitiçada para caber mais coisas do que era visível. — E eu tenho uma novidade. Podemos conversar no seu escritório?
Narcissa esticou os olhos para olhar através de Draco, procurando ver se Scorpius estava ouvindo a conversa atrás da parede como Draco fazia quando era criança. Malfoy olhou para trás tentando entender o que a mãe estava vendo quando se lembrou.
— Eu conto a verdade para Scorpius. Ele não precisa ouvir atrás da porta. — A voz do, agora, homem, era grossa e seca. Ele não queria a mãe ali e deixaria isso claro para ela. Porém, preferia saber o que ela tinha para dizer do que acordar no dia seguinte descobrindo uma nova onda de seguidores de Lord Voldemort e puristas mais uma vez querendo o controle do mundo bruxo. Especialmente agora que as coisas pareciam estar em tanta harmonia. — Vamos para o escritório.
Draco levantou o braço indicando o caminho e Narcissa seguiu na frente. Chegaram na porta escura no final do corredor, e Draco virou a maçaneta, exibindo um cômodo arrumado. A prateleira de livros catalogada como em uma biblioteca, uma área com caldeirões e ingredientes para as mais diversas poções e sua escrivaninha era a única parte do cômodo que, a olho nu, parecia bagunçada. Porém, Draco deixava todos os seus trabalhos metodicamente arrumados em pilhas, separados por datas e nível de importância. Atrás da sua cadeira preta, um quadro de Astoria e Scorpius era exibido. A imagem era a parte mais atrativa do cômodo e Narcissa perdeu a voz ao vê-la.
Draco tentava fugir de seu pai, mas ele continuava sendo a cópia do pai. O mesmo gosto por móveis, a mesma exigência. Mas, como Narcissa sabia desde que ele era criança, Draco não era nada parecido com Lucio em seu interior. Aquele quadro e todo o restante da casa mostrava como Draco Malfoy era uma pessoa boa. Uma pessoa que se importava com os outros e, especialmente, que se importava com sua família.
— Bem mãe, o que é tão importante que você não poderia mandar uma coruja? — Draco se sentou na cadeira atrás da escrivaninha e fez sinal para que a mãe ocupasse um lugar à sua frente.
— Você já está grade, está cuidando do Scorpius muito melhor do que eu imaginei, especialmente agora sem a Astoria. O Ted Lupin se mudou para Londres com a Victorie, também está seguindo sua vida. — Draco franziu o cenho, sem entender porque a mãe estava falando do filho de Remo Lupin. — Então eu e sua tia, Andrômeda, resolvemos que está na hora de seguirmos a nossa vida.
— O que... — A pergunta de Draco foi tão baixa que Narcissa quase não conseguiu ouvir.
— Eu estou finalmente deixando seu pai, Draco. Vou me mudar para os Estados Unidos com minha irmã. Vamos viver a vida que nós duas sempre sonhamos quando adolescentes. Está na hora de deixar a sua geração cuidar do mundo bruxo.
Draco ficou sem palavras, apenas encarando a mãe. Ele sabia que o tio Ted tinha morrido alguns anos antes, mas não fazia ideia que Narcissa ainda mantinha contato com Andrômeda. E estava mais assustado ainda pela decisão da mãe.
— Como Lucio encarou isso? — Draco cruzou as mãos em cima da mesa, se aproximando ainda mais da sua mãe, analisando casa traço no rosto da mulher em busca de qualquer traço de mentiras. Não encontrou nada.
— Isso não vem ao caso. Porém, vamos pegar um avião logo depois do Natal. Foi por isso que quis vir, filho. Precisava me despedir de vocês e, sobretudo, te pedir desculpas.
— Desculpas? — Draco tinha um semblante ansioso, confuso com as palavras da mãe. Ele passou as mãos nos cabelos, bagunçando os fios curtos que mantinha. Sempre buscando ser o oposto do pai.
Narcissa tirou uma caixa de dentro da sacola e colocou em cima da mesa do filho. Com a varinha, executou um feitiço silencioso, desfazendo o fecho.
— Quando você tinha dez anos, teve o primeiro Natal verdadeiramente em família. Seu pai tinha ido para Escócia, então eu levei você para casa da sua tia Andrômeda. Lá, você teve seu primeiro contato com o mundo trouxa. Brincou com Tonks, a mãe de Ted, você lembra dela? — Draco assentiu, apesar de ter recordações efêmeras da prima. — Lá você ganhou três presentes: esse suéter de Hogwarts, uma camisa da seleção inglesa de futebol, e esse relógio, que por algum motivo eu esqueci de tirar de você.
Draco colocou a mão no próprio punho, sentindo o objeto que ele raramente tirava. Ele nunca soube como ganhou e Narcissa disse a ele que havia sido herança de família, mas ele sempre teve um carinho inexplicável pelo relógio.
— Quem lhe deu esse relógio foi a Tonks. Ela tinha um igual.
— Por que eu não lembro disso, mãe? — O homem perguntou, tirando da caixa o suéter que agora não lhe servia mais. Nem em Scorpius aquelas roupas serviriam. Seriam objetos perdidos no tempo, de uma vida anterior e distante. De um conto de fadas que Draco nunca tinha escutado.
Narcissa começou a chorar. Ela não queria que as lágrimas caíssem assim. Não queria que Draco pensasse que estava usando o choro para lhe comover. Era longe disso. Assim como o filho, Narcissa havia se escondido por anos e apenas agora que ela se sentia confortável em ser ela mesma. Longe de Lucio, longe da Inglaterra.
— Eu fiquei com medo do seu pai descobrir, filho. Tinha medo do que ele poderia fazer conosco. Então, fiz uma escolha egoísta. Uma das muitas que fizemos nas nossas vidas. Apaguei as suas lembranças daquela noite, me convencendo que quando você chegasse a maior idade eu te contaria, mas então...
— Eu havia me tornado um comensal da morte e nossa casa era o novo quartel general do Lord das Trevas.
Narcissa assentiu, ainda com as lágrimas escorrendo. Havia sido a pior época da sua vida e da de Draco. E, toda vez que ela olhava para o filho, hoje um homem formado que havia dado a volta por cima, ela se sentia orgulho.
— Meu presente para você, acompanhado de um pedido de desculpas, é retornar a sua memória daquele Natal. Você merece se lembrar da sua prima, uma mulher corajosa que morreu para proteger sua família. Você merece se lembrar da sua tia, uma bruxa fantástica que teve a mesma coragem que a sua esposa: dar as costas para as ideias tradicionalistas das famílias puro sangue. Eu fiz o que fiz para te proteger, mas não preciso mais disso. Hoje, você é mais forte do que eu jamais fui.
Draco sacudiu a cabeça, sentindo as lágrimas também caírem, e se levantou, ajoelhando-se ao lado da mãe.
— Você deu a sua vida para me proteger, mamãe. Você sempre me mandava doces quando eu estava em Hogwarts, mesmo naquele ano. — Draco enfatizou as duas palavras, o ano em que nenhum dos dois falava sobre. — Você me ensinou o que era amor, mamãe. Se hoje eu consigo amar o Scorpius e cuidar dele como ele merece, foi porque você cuidou de mim, apesar de tudo que Lucio fez com a gente. Eu não faço questão de me recordar daquele Natal porque todo Natal você fazia com que fosse especial. Mas, é a sua família. E você merece que eu lembre deles como você se lembra.
Narcissa acariciou os cabelos platinados do filho, tão macios quanto ela se lembrava. Ela pegou a varinha e, silenciosamente, fez com que Draco se recordasse. O cabelo cor de rosa de Tonks, a risada do tio Ted, o abraço da tia Andrômeda. O cheiro de biscoitos de natal, o filme na televisão, o voo na vassoura da Tonks.
Draco se sentiu estranho conhecendo memórias que ele não sabia que tinha. Mas, ao mesmo tempo, se sentiu amado. Apesar do que ele sempre pensou, do que seu pai sempre quis que ele pensasse, ele era amado. Ele não estaria sozinho.
— Mãe, quando você e tia Drômeda estiverem estabelecidas nos Estados Unidos e Scorpius estiver em Hogwarts, tudo bem eu visitar vocês?
Narcissa sorriu, se levantando com Draco para que pudesse lhe abraçar.
— Claro, meu filho. Você sempre terá um espaço na minha vida.
— Pai, a carta dos Potter che... O que aconteceu? — Scorpius entrou no escritório do pai e encontrou Draco e Narcissa abraçados. Scorpius sabia que eles não se davam bem há anos, e logo imaginou os piores cenários possíveis. O garoto tinha experiências ruins o suficiente para preencher todas as lacunas da sua criatividade.
Draco, por sua vez, soltou-se do abraço da mãe e sorriu para o filho, acenando para que ele se aproximasse.
— Não tem nada de errado acontecendo, apenas coisas boas, filho. — Draco abraçou Scorpius pelos ombros, trazendo o filho para perto de si. — A vovó está mudando para os Estados Unidos com a Tia Andrômeda, a avá do Ted, você lembra dela?
— Aham. — Scorpius olhou para a avó, seu olhar muito mais terno e tranquilo do que o de Draco sempre foi. — E a gente vai poder te visitar, vó?
— Claro, meu filho. Sempre que vocês quiserem. — Ela puxou a sacola de presentes e tirou de lá uma caixinha pequena, entregando-a para Scorpius. — Primeiro presente de Natal. Terão outros, mas esses só depois da ceia... Isso é, eu posso passar Natal com vocês?
Narcisa virou o olhar para Draco que sorriu. Não seria um Natal vazio como ele tinha imaginado. Seria um Natal rico de amor, surpresas e, sem dúvidas, com presentes muito melhores do que os que ele havia escolhido. Narcissa sempre soube escolher os melhores presentes.
— Claro, mãe. Não esperaria diferente.
— O que é isso? — Scorpius abriu a caixinha, tentando entender porque a avó estava lhe dando um anel de presente.
— Isso, é o anel da família Malfoy. Seu avô tinha um, seu pai tem um e agora você também poderá usá-lo com orgulho.
Scorpius olhou para o pai com um pedido de ajuda. Draco havia sumido com o anel da família Malfoy quando os boatos que seu filho seria fruto de uma relação de Astoria com Voldemort e que a família Malfoy estaria condenada. Draco e Scorpius sabiam que nada disso era verdade, mas ainda assim precisaram lidar com as mentiras quando Astoria começou a enfraquecer.
Eles já haviam vivido muitas vidas para se importar com coisas fúteis como um anel de família. Porém, para Narcissa, aquilo era importante. Scorpius entendeu o olhar de Draco para ele. Não era obrigado a aceitar, mas Scorpius sabia qual seria o certo a fazer.
— Obrigado vó. — Ele tentou dizer com o maior entusiasmo possível enquanto deslizada o anel pelo dedo, servindo perfeitamente no seu indicador direito.
Narcissa fingiu não ver o olhar entre pai e filho. Notou que Draco não usava o anel da família Malfoy e entendeu que eles não sentiam orgulho em carregar o nome Malfoy. Entretanto, para ela, os dois eram os maiores motivos de se orgulharem.
A ceia de Natal tinha os pratos favoritos de Astoria. Scorpius pediu para o pai se poderiam homenagear a mãe e Draco gostou da ideia. O cardápio não era nada tradicional, mas o cheiro fez Draco se recordar dos anos anteriores ao nascimento do filho.
Uma época em que ele ainda se recuperava, assim como o mundo bruxo. Talvez, o momento em sua vida que ele mais esteve só. E, ainda assim, Astoria o encontrou. A sua forma leve de encarar a vida, o sorriso sempre no rosto. Sua habilidade na cozinha e como ela enxergava Draco melhor do que ele mesmo.
A saudade que Draco sentia da esposa jamais iria passar. Ninguém nunca seria capaz de ocupar o espaço em seu coração destinado a Astoria Greengrass-Malfoy.
Ele se sentou a mesa na cabeceira e Narcissa se sentou no lado oposto. Scorpius ficou ao meio da mesa retangular. Ela não era grande. Nada na casa de Draco e Scorpius era exagerado. Tudo havia sido comprado com o maior bom gosto possível.
Os três começaram a comer em silêncio, mas Scorpius continuava pensando nos boatos que escutara na escola. Ele tinha medo de voltar e descobrir que eram verdade. Que seu pai nem sempre havia sido o homem carinhoso que ele conhecia.
— Papai, é verdade que você lutou ao lado de você-sabe-quem? — Scorpius levantou os olhos azuis para Draco que estava sentado na ponta da mesa. O mais velho chegou a hesitar, mas foi Narcissa quem respondeu para o neto.
— Seu pai lutou ao meu lado. Ele sempre foi uma pessoa que se preocupava com a família e com quem ele ama. Desde muito jovem. Draco esteve ao meu lado quando ninguém mais estava, nem mesmo seu avô, Lucio. — A bruxa cruzou as mãos em cima da mesa e esticou a coluna, de forma que as marcas de uma vida de submissão ficassem de lado por alguns instantes. — Scorpius, eu sei que você deve escutar muito sobre a família Malfoy e a família Black na escola. Eu sempre me preocupei com o seu pai por carregar um fardo que não era dele e agora eu me preocupo com você. Porém, você deve levar o nome Malfoy com orgulho. Depois da guerra, seu pai fez questão de reconstruir o legado da nossa família, e se permitiu ser o homem gentil que a raiva não o deixava ser. Sua mãe sabia disso. Foi esse lado desconhecido de Draco que fez com que Astoria se apaixonasse por ele. E foi esse amor que a fez colocar a própria vida em risco para que você nascesse. Ela não queria deixar seu pai sozinho porque ele já tinha estado sozinho por muito tempo. Apesar de tudo que você ouviu na escola, saiba que seu pai sempre vai estar presente por você. Ele nunca mediu esforços para proteger quem ele ama. Nem mesmo quando isso colocou a própria vida em risco.
Narcissa olhou para o filho com admiração. Draco tinha lágrimas nos olhos e a cicatriz da marca negra ainda ardia em seu antebraço. As dores das torturas emocionais eram maiores do que os traços físicos que marcavam a sua pele.
Após a guerra, Draco quis ir para o mais longe possível dos pais. E, de repente, o garoto que tinha tudo passou a não ter nada. Não tinha amigos, não tinha família, não tinha ele mesmo. O tempo fez com que Draco precisasse se redescobrir e, no meio dessa jornada, permitiu que Astoria entrasse em sua vida. Permitiu que ela o conhecesse como ninguém antes foi capaz.
Narcissa pareceu ler os pensamentos do filho quando continuou.
— O nome Malfoy por muito tempo foi ligado às artes das trevas. Porém, não era o único. Hoje, está na mão de vocês dois mostrarem que os Malfoy não são mais a família preconceituosa que um dia foram. Agora, cabe a vocês mudarem o legado e usarem o nome com orgulho. Vocês dois merecem isso.
Draco olhou para mãe, lendo em seus olhos palavras não ditas, sentimentos encobertos e memórias que deveriam ser apenas isso: memórias. Ele se lembrou como usava o anel frouxo no dedo depois que ganhou de presente aos onze anos. Como exibiu para os amigos na escola e todas as oportunidades boas que o nome Malfoy lhe trouxera. Havia a parte ruim, mas ele também conhecia as partes boas.
— Use esse anel com orgulho, filho. — Draco apontou para a mão direita do filho. — Eu usava. E, quer saber, vou voltar a usar.
Draco se levantou e foi até o escritório, retornando à sala com o anel prateado no dedo.
— Eu nunca entendi o orgulho vindo da família. Lucio havia me ensinado que o nome Malfoy era sinônimo de poder, riqueza, sucesso. Ele me contava histórias e me fazia acreditar que eu conseguiria tudo apenas por ter o sobrenome Malfoy. — Draco se sentou, olhando nos olhos de Scorpius. — Mas acho que só agora eu entendi. Usar o nome com orgulho não é o mesmo que usá-lo com avareza. Usar nosso sobrenome com orgulho significa que valorizamos os nossos, temos orgulho da nossa história e queremos construir um futuro melhor para as próximas gerações. Foi isso que eu e sua mãe fizemos enquanto lutávamos tanto para ter você, Scorpius. Você é a nova geração Malfoy. A geração que vai levar essa família, enfim, para o lado correto da história. Narcissa está certa, tenha orgulho desse sobrenome. E o use com respeito.
Scorpius assentiu, compreendendo que esses valores não eram tão diferentes assim do que sua casa em Hogwarts, Sonserina, pregava. No fim, era por esse tipo de orgulho que todos os Malfoy iam para casa de Salazar Slytherin.
Após a ceia de Natal, Narcissa entregou-lhes os presentes. Draco também presenteou Scorpius com alguns livros de poções, alquimia e feitiços. Despediram de Narcissa desejando uma nova vida para ela e prometendo que lhe escreveriam sempre que possível. Ficou combinado que Draco iria para Nova York encontrar a mãe no final de janeiro, após Scorpius estar de volta à escola.
Juntos, antes de irem dormir, Draco e Scorpius responderam a carta de Harry Potter, confirmando que ambos iriam estar presentes na Toca para o ano novo. Scorpius foi dormir ansioso em ver o amigo na semana seguinte. Draco, por outro lado, tinha receio de como seria reencontrar o rival da época da escola. Entretanto, ele tinha certeza que Potter não era mais o mesmo dos tempos de Hogwarts, assim como Draco nem conseguia mais se recordar de quem era na escola.
Talvez, o que ele precisava era exatamente isso: um novo começo.
Epílogo
31 de Dezembro, 2019.
Draco nunca conhecera nenhuma casa de seus colegas de Hogwarts. Mas, se o dissessem na época que sua primeira visita seria justamente a casa dos Weasley, ele daria risada. E talvez algum comentário debochado. Porém, assim que ele e Scorpius saíram da lareira, ele se deparou com a sala de estar da Toca, um lugar que ele não imaginava nem nas suas melhores alfinetadas a Rony Weasley.
— Uau. — Foi tudo que ele disse antes de ser recebido por uma multidão de cabelos avermelhados que corriam para fora da casa.
— Scorpius! Você veio mesmo. — Albus pulou em cima do amigo. Havia dez dias que eles se despediram na Estação King Cross e ainda assim eles sentiam falta um do outro.
— Eu te disse que eu vinha! — Scorpius gritou de volta e Draco teve que morder o lábio para não chamar atenção. — Pai, ele é Albus Severus Potter, meu melhor amigo.
— Severus? — Draco franziu o cenho sem entender de onde Harry havia tirado a ideia de dar o nome do professor que ele mais odiava para o filho. — Hm, olá. Obrigado pelo convite.
— Eu quem agradeço que você deixou Scorpius vir, Sr. Malfoy.
— Por Merlin, é Draco. Sr. Malfoy é meu pai que tá bem longe lá em Askaban. — Albus arregalou os olhos arrancando uma risada de Scorpius.
— Mentira dele, Albus! Papai gosta de contar essa piada ruim.
— Mas bem que ele podia estar mesmo em Askaban. — Harry chegou na sala acompanhado de Gina e Ronny. — Oi, Draco. Seja bem-vindo.
— Obrigado. E você não está errado. — Draco sorriu e coloco as mãos no bolso da calça, claramente desconfortável.
— Albus, acho que seus primos estão jogando quadribol no quintal. O que você acha de levar Scorpius até lá? — Gina chamou o filho, distribuindo suco de abobora para as crianças.
— O Ted já chegou? — Scorpius perguntou para Albus.
— Sim! Vamos pedir para ele fazer aquele nariz de porco de novo.
Albus e Scorpius saíram correndo para fora da casa se juntar aos outros adolescentes e crianças. Draco ficou a sala encarando Harry, Gina e Ronny, se sentindo um intruso naquela família perfeita. Gina lhe ofereceu uma cerveja amanteigada e deu uma cotovelada em Harry. Pelo menos nisso Potter não havia mudado: sempre abaixando a cabeça para as mulheres da sua vida.
— Aqui, Draco. Sinta-se à vontade, ok? — Gina olhou para Rony, vendo que o irmão estava com a cara fechada para o recém chegado. — Ron, vem ajudar a mamãe com a ceia.
Os Weasley saíram deixando Harry e Draco pela primeira fez sozinhos em vinte anos. Os dois nunca mais conversaram depois da batalha, mesmo que Draco tivesse mil coisas para falar a Potter. Porém, apesar de terem muito para colocar em dia, havia apenas uma coisa que Malfoy queria saber.
— Severus? Mesmo? — Ele deu um gole na cerveja amanteigada e Harry deu de ombros.
— Fazia sentido e Gina não reclamou. — Foi a vez de Draco dar de ombros. Ele apontou para um sofá e Harry puxou uma poltrona para que eles se sentassem na sala de visita.
— Então, você e Gina. Sempre achei que você fosse ficar com a Granger.
Harry riu. Se ele ganhasse um galeão para a quantidade de vez que ele já ouvira sobre ele e Hermione, ele já teria comprado um time de quadribol para chamar de seu.
— Hermione foi casada com Rony por alguns anos, porém eles acabaram se separando no ano passado. Aquela carinha feia do Weasley se tornou permanente desde então, não leve para o pessoal. — Foi a vez de Harry beber a sua cerveja.
— Ah... Eu sempre achei que ela fosse inteligente demais para ele. — A voz de Draco saiu baixa e Harry levantou as sobrancelhas, percebendo que havia sido mais um pensamento em voz alta do que uma crítica. Talvez, Harry pudesse se acostumar com esse novo Malfoy.
Draco mudou de assunto, trazer Hermione à tona o levaria de volta para os anos que ele preferia esquecer. Aquele Draco não existia mais assim como ele tinha certeza que a Granger também era completamente diferente do que ele imaginava. Conversaram sobre o trabalho de Harry como auror, se recordaram de alguns colegas de turma. Harry perguntou sobre Astoria e Draco, com um sorriso no rosto, falou da esposa com o coração leve pela primeira vez nos últimos seis meses.
Draco olhou para o quintal observando Scorpius e Albus brincando. Os dois pareciam duas metades de um inteiro. Draco sorriu ao ver que o filho estava feliz. Ele tinha amigos de verdade, exatamente tudo que Draco e Astoria sempre quiseram para ele.
No fim, Draco viu que ele e Harry tinham muito mais em comum do que eles aparentavam. Draco se recordou do Natal que havia esquecido, a primeira vez que escutou o nome de Potter, e sabia que havia sido ali que decidira que seria amigo do garoto. Talvez, tantos anos depois, isso enfim pudesse acontecer.
Draco nunca conhecera nenhuma casa de seus colegas de Hogwarts. Mas, se o dissessem na época que sua primeira visita seria justamente a casa dos Weasley, ele daria risada. E talvez algum comentário debochado. Porém, assim que ele e Scorpius saíram da lareira, ele se deparou com a sala de estar da Toca, um lugar que ele não imaginava nem nas suas melhores alfinetadas a Rony Weasley.
— Uau. — Foi tudo que ele disse antes de ser recebido por uma multidão de cabelos avermelhados que corriam para fora da casa.
— Scorpius! Você veio mesmo. — Albus pulou em cima do amigo. Havia dez dias que eles se despediram na Estação King Cross e ainda assim eles sentiam falta um do outro.
— Eu te disse que eu vinha! — Scorpius gritou de volta e Draco teve que morder o lábio para não chamar atenção. — Pai, ele é Albus Severus Potter, meu melhor amigo.
— Severus? — Draco franziu o cenho sem entender de onde Harry havia tirado a ideia de dar o nome do professor que ele mais odiava para o filho. — Hm, olá. Obrigado pelo convite.
— Eu quem agradeço que você deixou Scorpius vir, Sr. Malfoy.
— Por Merlin, é Draco. Sr. Malfoy é meu pai que tá bem longe lá em Askaban. — Albus arregalou os olhos arrancando uma risada de Scorpius.
— Mentira dele, Albus! Papai gosta de contar essa piada ruim.
— Mas bem que ele podia estar mesmo em Askaban. — Harry chegou na sala acompanhado de Gina e Ronny. — Oi, Draco. Seja bem-vindo.
— Obrigado. E você não está errado. — Draco sorriu e coloco as mãos no bolso da calça, claramente desconfortável.
— Albus, acho que seus primos estão jogando quadribol no quintal. O que você acha de levar Scorpius até lá? — Gina chamou o filho, distribuindo suco de abobora para as crianças.
— O Ted já chegou? — Scorpius perguntou para Albus.
— Sim! Vamos pedir para ele fazer aquele nariz de porco de novo.
Albus e Scorpius saíram correndo para fora da casa se juntar aos outros adolescentes e crianças. Draco ficou a sala encarando Harry, Gina e Ronny, se sentindo um intruso naquela família perfeita. Gina lhe ofereceu uma cerveja amanteigada e deu uma cotovelada em Harry. Pelo menos nisso Potter não havia mudado: sempre abaixando a cabeça para as mulheres da sua vida.
— Aqui, Draco. Sinta-se à vontade, ok? — Gina olhou para Rony, vendo que o irmão estava com a cara fechada para o recém chegado. — Ron, vem ajudar a mamãe com a ceia.
Os Weasley saíram deixando Harry e Draco pela primeira fez sozinhos em vinte anos. Os dois nunca mais conversaram depois da batalha, mesmo que Draco tivesse mil coisas para falar a Potter. Porém, apesar de terem muito para colocar em dia, havia apenas uma coisa que Malfoy queria saber.
— Severus? Mesmo? — Ele deu um gole na cerveja amanteigada e Harry deu de ombros.
— Fazia sentido e Gina não reclamou. — Foi a vez de Draco dar de ombros. Ele apontou para um sofá e Harry puxou uma poltrona para que eles se sentassem na sala de visita.
— Então, você e Gina. Sempre achei que você fosse ficar com a Granger.
Harry riu. Se ele ganhasse um galeão para a quantidade de vez que ele já ouvira sobre ele e Hermione, ele já teria comprado um time de quadribol para chamar de seu.
— Hermione foi casada com Rony por alguns anos, porém eles acabaram se separando no ano passado. Aquela carinha feia do Weasley se tornou permanente desde então, não leve para o pessoal. — Foi a vez de Harry beber a sua cerveja.
— Ah... Eu sempre achei que ela fosse inteligente demais para ele. — A voz de Draco saiu baixa e Harry levantou as sobrancelhas, percebendo que havia sido mais um pensamento em voz alta do que uma crítica. Talvez, Harry pudesse se acostumar com esse novo Malfoy.
Draco mudou de assunto, trazer Hermione à tona o levaria de volta para os anos que ele preferia esquecer. Aquele Draco não existia mais assim como ele tinha certeza que a Granger também era completamente diferente do que ele imaginava. Conversaram sobre o trabalho de Harry como auror, se recordaram de alguns colegas de turma. Harry perguntou sobre Astoria e Draco, com um sorriso no rosto, falou da esposa com o coração leve pela primeira vez nos últimos seis meses.
Draco olhou para o quintal observando Scorpius e Albus brincando. Os dois pareciam duas metades de um inteiro. Draco sorriu ao ver que o filho estava feliz. Ele tinha amigos de verdade, exatamente tudo que Draco e Astoria sempre quiseram para ele.
No fim, Draco viu que ele e Harry tinham muito mais em comum do que eles aparentavam. Draco se recordou do Natal que havia esquecido, a primeira vez que escutou o nome de Potter, e sabia que havia sido ali que decidira que seria amigo do garoto. Talvez, tantos anos depois, isso enfim pudesse acontecer.
Fim!
Nota da autora: Ainda tem alguém sem lágrimas no rosto por aí? Quando pensei em um conto de Natal, tive milhares de ideias. Histórias originais, contos que se passassem no Brasil, mas nada me deixou verdadeiramente empolgada para escrever. Até que escrevi o primeiro paragrafo desse conto. Não me recordo a última vez que escrevi uma história sem planejamento, porém, Draco Malfoy e Narcissa Malfoy se apoderaram das minhas ideias e permitiram que eu contasse o seu lado da história. A princípio, iria ser apenas o primeiro capítulo, mas ao ler a história da Astoria, senti meus olhos encherem de lágrimas novamente e apenas segui escrevendo até sentir que havia contado tudo que eu precisava contar. O ano de 2020 não foi fácil. Foi um ano com escolhas difíceis, sentimentos conflituosos e uma luta diária de paciência e resiliência. No meio disso tudo, voltei a me apaixonar por Harry Potter. Voltei a me apaixonar por Draco Malfoy e me permitir, finalmente, ter um contato como autora com esse personagem que é um dos meus favoritos desde que eu tinha cinco anos de idade. Aqui, deixo meu agradecimento ao FFOBS por terem promovido o Especial de HP em setembro. Sem ele, talvez eu não tivesse encontrado o porto seguro que precisava para enfrentar 2020. Afinal, Hogwarts sempre estará ali para voltarmos para casa.
Feliz Natal para vocês! Que vocês possam criar memórias, mesmo que à distância, com a família de vocês assim como Narcissa fez questão de fazer com Draco e Draco faz questão de fazer com Scorpius.
Outras Fanfics:
Longfics em andamento:
Illicit Affairs
Malfeito Refeito
Perfeita Simetria
Outras fics:
I Found Peace in your violence
Halloween is just a night
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Feliz Natal para vocês! Que vocês possam criar memórias, mesmo que à distância, com a família de vocês assim como Narcissa fez questão de fazer com Draco e Draco faz questão de fazer com Scorpius.
Outras Fanfics:
Longfics em andamento:
Illicit Affairs
Malfeito Refeito
Perfeita Simetria
Outras fics:
I Found Peace in your violence
Halloween is just a night